Brasil, Austrália e África do Sul unificam dados sobre resistência bovina ao carrapato
Colaboração internacional focada em informações genômicas permite alcançar precisão inédita na seleção de animais de corte resistentes ao parasita
Pesquisadores de diversos países divulgaram a união de bancos de dados do Brasil, África do Sul e Austrália com informações de predição genômica para resistência de diversas raças de bovinos de corte ao carrapato.
Cerca de 80% do gado de corte e leiteiro do mundo são afetados pela zoonose que causa prejuízos bilionários à produção em escala global, apontam os autores do estudo.
Os resultados desse trabalho inédito integram o artigo “Predição genômica de vários países e raças de resistência a carrapatos em bovinos de corte”, publicado na revista científica internacional Frontiers, informou a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Conforme o pesquisador Fernando Flores Cardoso, chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul e primeiro autor do artigo, o grau de infestação por carrapatos é um fenótipo muito difícil de coletar nos rebanhos para a avaliação da resistência dos animais.
“Dessa forma, unir dados de diferentes países e raças bovinas representa um avanço importante para a seleção genômica voltada à resistência ao carrapato”, afirmou em nota da empresa pública.
Além de ser um parasita direto, o carrapato se comporta como vetor dos patógenos responsáveis pelas doenças que caracterizam o complexo da Tristeza Parasitária Bovina, que causam perda na produção de carne e de leite e a desvalorização do couro, fora os gastos com controle de pragas.
Os cientistas que desenvolveram a pesquisa integram o Consórcio Internacional do Carrapato, coordenado pelo Centro para Genética e Saúde da Pecuária Tropical (CTLGH), localizado na Universidade de Edimburgo no Reino Unido e que envolve países da África, Oceania, Europa e das Américas.
No artigo, os pesquisadores mostram que é possível combinar informações de diferentes populações de bovinos em uma única análise e, com isso, gerar previsões de resistência ao carrapato mais precisas.
De acordo com Cardoso, isso permite que a seleção possa avançar inclusive em populações que tenham uma população de referência menor em função da possibilidade de agregar outras populações para aumentar esse primeiro repositório de informações.
“Neste estágio inicial, estão animais com contagem de carrapatos e com os genótipos para milhares de marcadores por todo o genoma”, ele explica.
No estudo, foram unificadas as bases de dados de milhares de animais brasileiros fenotipados para resistência ao carrapato das raças Angus, Hereford, Brangus e Braford. Da Austrália, há representantes Tropical Composite e Brahman, além dos sul africanos Nguni, visando avaliar a possibilidade de melhorar a resistência do hospedeiro por meio da seleção genômica de múltiplas características.
Os dados consistiram em contagens ou escores de carrapatos, avaliando o número de carrapatos fêmeas de pelo menos 4,5 mm de comprimento.
Conforme o pesquisador Appolinaire Djikeng, da Universidade de Edimburgo (Escócia), coautor do artigo, os resultados relatados em nossa publicação fornecem uma estrutura para a integração da seleção para resistência a carrapatos em programas de criação de gado.
“Um benefício significativo de longo prazo dessa abordagem é o uso reduzido e até (com sorte) a eliminação de acaricidas muito usados para tratar animais, mas que apresentam efeitos adversos importantes para a saúde pública e o meio ambiente”, avalia Djikeng.
A pesquisadora Heather Burrow, da Universidade da Nova Inglaterra (Austrália), coautora do artigo, destacou para a Embrapa que, nos últimos anos, o CTLGH buscou uma maneira prática e econômica de analisar os dados dos bovinos de corte, usando uma combinação de medições de animais e informações baseadas em DNA (genômicas) para fornecer valores genômicos que os agricultores poderiam usar para sua tomada de decisão de criação.
“A abordagem do consórcio identificou diversas vantagens importantes sobre os métodos de melhoramento genômico tradicionalmente aceitos para as abordagens de seleção genômica tradicionais, que tornarão muito mais simples e econômica para os criadores de gado melhorar geneticamente a resistência ao carrapato do gado”, conta Burrow.
A nova pesquisa, segundo a cientista, demonstra que, usando informações genômicas completas em conjunto com medições de animais, é preciso medir significativamente menos animais do que nas abordagens tradicionais e em rebanhos que não são geneticamente relacionados.
Fonte: Globo Rural