Carne é setor de maior potencial de investimento na China
O setor de proteínas animais concentra maior potencial de investimentos e participação do Brasil no mercado chinês. Foi o que disseram organizadores de um estudo de oportunidades no país asiático, apresentado em fevereiro, em São Paulo. O trabalho foi conduzido pela Agência Brasileira de Promoção das Exportações (Apex-Brasil) e Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).
O estudo analisou as possibilidades na relação com a China em oito setores ligados ao agronegócio. Além das carnes (suína, bovina e de frango), foram avaliados suco de laranja, calçados, celulose, soja e café. No caso das carnes, uma das principais conclusões é que o consumidor chinês percebe o produto importado como sendo de melhor qualidade. O produto suíno representa 64% do consumo, seguida pelo frango, com 21% e carne bovina, com 8%.
"As carnes têm um potencial grande de comércio e investimentos. No suíno, por exemplo, 2% do consumo chinês é de produto importado, o que faz do país o segundo maior importador mundial", disse Clara Santos, que participou do trabalho, durante entrevista pouco antes do início das apresentações.
Nos suínos, especificamente, apesar de concentrar 50% da produção mundial (53,8 milhões de toneladas em 2013), não tem volume suficiente para atender a demanda interna, aponta a pesquisa. Na avaliação dos autores, a oportunidade está na exportação da carne in natura para o processamento local.
Durante o painel específico do evento sobre setor de carnes, o diretor executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Jurandi Machado, disse que até o ano de 2017, o mercado chinês deve ser o maior importador de carne suína do mundo. Na avaliação dele, o principal item da estratégia para aproveitar esse potencial é a questão sanitária.
"A febre aftosa afeta mais os bovinos, mas interfere também nos suínos. No Brasil, o único estado livre de aftosa sem vacinação é Santa Catarina que, mesmo sendo o maior produto nacional, não tem volume suficiente para atender esse e outros mercados", disse Machado.
Frango
Na carne de frango, o estudo destaca que o consumo per capita mais que dobrou, passando de 4,6 quilos por habitante em 2000 para 10 quilos em 2013. Até 2018, a expectativa é chegar a 12,3 quilos por pessoa. Uma das alternativas de investimentos no mercado local por meio de estabelecimentos como galeterias.
Falando sobre o setor, o vice-presidente da ABPA, Ricardo Santin, citou como exemplo as exportações de pés de frango para a China, item que faz parte da gastronomia local, mas que não é consumido no Brasil. "Se fosse usado aqui, o valor seria de US$ 500 por tonelada. Vendendo para a China, chega a US$ 2,5 mil. Isso agrega valor a um produto que aqui não se consome", disse.
Com relação ao acesso e manutenção das vendas para o país asiático, reforçou a preocupação com a questão sanitária. "A China tem problemas com gripe aviária e o Brasil não. Manter isso é fundamental", disse ele.
Carne bovina
Com relação à carne bovina, o trabalho destaca que nos últimos cinco anos, a produção local caiu enquanto as exportações subiram 75%. Segundo os autores, o potencial neste segmento está no fato do produto ainda ser menos consumido em relação a outras carnes e poderia ser atendido, por exemplo, com a introdução de restaurantes e churrascarias.
O diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Carne Bovina (Abiec) lembrou do fim do embargo chinês ao produto brasieleiro, acertado no ano passado, mas destacou que as vendas diretas ainda não foram efetivadas. "O embargo não tem mais, a fase agora é de negociação do protocolo sanitário", disse ele, ressaltando que boa parte das exportações para a região tem como destino Hong Kong, que responde por 26% do volume total.
Além da questão sanitária, o executivo destacou a dificuldade do Brasil em fechar acordos comerciais. Lembrou, por exemplo, que a Austrália, concorrente do país no mercado global, tem uma relação bilateral com a China que beneficia o setor de carne bovina. "O Brasil está amarrado no Mercosul. O acesso a mercados depende de acordo comerciais", afirmou Sampaio.
Apesar disso, ele demonstrou otimismo. "A China vai ser a âncora das exportações brasileiras nos próximos anos", disse Sampaio, acrescentando que o setor está envolvido em negociações para abrir outros mercados na região asiática, como Mianmar e Tailândia. "O Brasil está fora de metade do mercado mundial de carne bovina e parte disso se deve a barreiras sanitárias".
Fonte: Globo Rural