CLÁUDIO CALDAS – CRIADOR DA SEMANA

De Sant’Ana do Livramento ao Oiapoque, ele afirma: “Brangus é uma raça que se defende sozinha”

Sócio número 002 da Associação Brasileira de Brangus (o número 001 é a Embrapa Bagé), Cláudio Antônio Bitencourt Caldas não pode ser considerado apenas um pioneiro da raça no Brasil, mas sim um dos responsáveis pelo sucesso deste cruzamento. Primeiro presidente da ABB, de 1979 a 1982, Caldas difundiu a raça Brangus no Brasil inteiro. Da Cabanha Santa Rita, em Sant´Ana do Livramento, ele afirma: “Para desistirmos do Brangus, só se desistíssemos da pecuária”. Para conhecer um pouco mais da história do Brangus e deste ícone da raça para o Brasil, Cláudio Caldas é o nosso CRIADOR DA SEMANA.

Associação Brasileira de Brangus - Além de ser o sócio número 002 da Associação, o senhor foi um dos grandes incentivadores da raça no país. Como tudo começou?

Cláudio Antônio Bitencourt Caldas - Em 1966 eu e minha esposa, Elisa, começamos a perceber que necessitávamos agregar ao rebanho Angus da Cabanha Santa Rita, características que conferissem um maior potencial de adaptação ao clima, às pastagens da nossa região e também mais resistência aos parasitas.  Percebemos que o rebanho Angus que possuíamos necessitava de um incremento de rusticidade. Partimos então para o cruzamento do Angus com o Zebu. Observamos que conseguíamos manter o leque de características positivas do Angus, inclusive a sua excepcional qualidade da carne (sabor, maciez e suculência) e estávamos agregando uma característica crucial que era a rusticidade, que confere ao Brangus a possibilidade de ser criado em qualquer país do mundo, e que sempre foi o fator de sucesso e permanência da raça ao longo dos anos. No início foi um trabalho solitário, tentávamos levar os animais Brangus nas exposições, mas havia muita resistência e era vetada a participação do Brangus na maioria das Exposições e Feiras agropecuárias. Em 1981 fomos a Granja do Torto em Brasília, residência do então Presidente da República, João Batista Figueiredo. Em conversa informal junto aos cavalos de salto, já que Figueiredo era equitador assim como meu filho, Cláudio de Souza Caldas, conseguimos a abertura necessária para registrar a Associação Brasileira de Brangus, número 44 no Ministério da Agricultura. Assim foi o início da Associação, que dei continuidade como primeiro presidente em duas gestões e meu filho continuou o trabalho na presidência do Núcleo Gaúcho.

ABB - No ano que vem, a Associação completa 30 anos de existência. Neste período, a raça, assim como a pecuária, passou por altos e baixos. O que o fez continuar um criador de Brangus?

Caldas - Notamos que ao agregar rusticidade ao Angus, as portas do Brasil estavam abertas, então começamos a buscar mercados fora do Rio Grande do Sul. Fizemos leilões na ABCZ em Uberaba (MG), depois fomos para o Mato Grosso do Sul, São Paulo e acabamos difundindo o Brangus por todo o país. Hoje, como se diz em linguagem popular, o Brangus já é criado de Sant’Ana do Livramento ao Oiapoque. Neste período o Brangus cresceu rapidamente e chegou a ser a segunda raça mais comercializada do país, o que incomodou, e fez com que surgissem muitas campanhas e também houve aporte de recursos financeiros contra o Brangus. Aliado a este boicote de interesses, também sofremos com as barreiras sanitárias impostas pela febre aftosa, além de épocas em que o preço do boi ficou abaixo do preço de custo de produção. Foram períodos difíceis, mas a qualidade do Brangus vem superando todas as dificuldades. Afinal o Brangus é uma raça que se defende sozinha.  Na [Cabanha] Santa Rita só temos animais da raça Brangus. Todo nosso plantel de fêmeas, touros, bois são Brangus, e todas as categorias também. Isto sempre significou preços melhores na comercialização, independentemente da categoria, sempre tivemos compradores totalmente interessados nos nossos produtos e dispostos a pagar um preço diferenciado, pois além do animal, compra-se 42 anos de genética Brangus agregada à marca Santa Rita. Por isso nunca passou pela nossa cabeça, mesmo nos momentos mais difíceis, de desistir do Brangus, ou de mudar de raça, pois para desistirmos do Brangus só se desistíssemos da pecuária.

ABB - O sul do país foi pioneiro na criação de Brangus. Hoje a raça ocupa todas as regiões do território nacional. Ao que o senhor atribui esta versatilidade?

Caldas - A Cabanha Santa Rita iniciou os primeiros cruzamentos em 1966, na verdade naquela época nós não tínhamos opções em remédios carrapaticidas e o Angus, por ser muito peludo, era bastante sensível ao carrapato. Senti a necessidade de colocar um radiador de Zebu. A estação experimental do Ministério da Agricultura iniciou o trabalho de cruzamento controlado em 1940. A cabanha Santa Rita iniciou difundindo o Brangus no Rio Grande do Sul e depois se expandiu para todo o Brasil, conquistando campeonatos, fazendo parcerias e comercializando animais Brangus para todo o país. Também exportamos sêmen para vários países e temos filhos de animais da Santa Rita em destaque no exterior.

ABB - Atualmente, qual segmento da raça o senhor trabalha em sua propriedade?

Caldas - A Cabanha Santa Rita tem como prioridade o melhoramento e a seleção genética de matrizes e reprodutores. Também trabalhamos com cria, recria e engorda, mas a grande diferença está na qualidade genética de 40 anos agregada aos produtos Santa Rita. O nosso maior foco é reprodução e comercialização de touros, antes da aftosa comercializávamos mais de 200 touros por este imenso país e nas melhores praças brasileiras. Agora estamos retornando com esta atividade. Exportamos sêmen do touro Dourado de Santa Rita para América do Norte, América Central, África e também para toda a nossa América Latina, através da Pecplan Bradesco – ABS. Dourado de Santa Rita teve uma filha de nome Miss Ipanema, que foi seis vezes grande campeã em Houston nos Estados Unidos. Fomos cinco vezes grande campeões na Expointer em Esteio - RS. Na Associação Brasileira de Criadores de Zebu, em Uberaba (MG), vendemos um touro que foi recorde em preço. Produzimos também o campeão e grande campeão em Bauru e Goiânia nas Nacionais do Brangus.

ABB - Na hora de negociar seu produto com o frigorífico, ser proveniente de cruzamento industrial facilita ou dificulta o comércio? Isso sempre foi realidade?

Caldas - Facilita muito, sempre vendo os Brangus da Santa Rita por um valor aproximadamente 10% acima do mercado.

ABB - Para obter sucesso com a raça, qual o segredo?

Caldas - Muito trabalho e amor no que se faz.

ABB - Deixe sua dica aos novos criadores.

Caldas - Quero dizer aos nossos criadores que acreditamos em uma realidade que não existia. Tínhamos um sonho e fomos em busca da sua realização. Fomos duramente criticados e muitas vezes ridicularizados, mas não nos abalamos. Tínhamos convicção em nosso projeto de transformar a raça Brangus em uma grande raça, respeitada e admirada por todos. Sabíamos, antes dos outros, das virtudes, qualidades e do potencial do Brangus. Faltava somente contar para os criadores, e foi o que fizemos. Para retornar ao posto que o Brangus já teve, precisamos da garra, do empenho, do potencial e do trabalho dos novos associados. Pois somente com muito trabalho e com muita união poderemos desfrutar de todo o potencial que o Brangus pode nos oferecer. Falta somente realizarmos a nossa parte como sócios, pois o Brangus é uma raça que se defende sozinha.

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