Comercialização de reprodutores na receita da propriedade
Investimento em genética eficiente e melhoradora é fator determinante para a viabilidade da produção de touros
O engenheiro agrônomo Fernando Barros Waihrich, da JMT Agropecuária, de São Gabriel (RS), foi uma das atrações do ciclo de palestras do 26º Encontro Técnico das Raças Bovinas de Corte (Encorte), que ocorreu na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) entre os dias 10 e 20 de maio de 2017. Waihrich, que é diretor de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Brangus (ABB), falou sobre o tema “Comercialização de reprodutores na receita da propriedade”.
A atividade ocorreu no dia 19 de maio de 2017, no Centro de Convenções da UFSM. O profissional fez a segunda palestra do dia e dissertou sobre os números da produção de reprodutores no Rio Grande do Sul, mostrando a média das propriedades que produzem touros e quais os sistemas que elas adotam. Ele ainda falou sobre as diferenças que as propriedades encontram na hora de produzir reprodutores/fêmeas melhoradoras ou terneiros ou animais para abate, na cria, recria e seleção genética.
Para explicar as diferenças entre a produção de touros e animais para abate, Waihrich comparou o retorno que um produtor tem para produzir uma carreta de soja e a mesma carreta da oleaginosa para semente. Apesar de fazerem quase a mesma coisa, o primeiro tem um faturamento de R$ 35 mil, enquanto o outro recebe R$ 180 mil pelo produto. “Às vezes, a gente produz a mesma coisa, mas, por agregar valor, o volume realizado é bem superior. Mas isso tem um custo”, sublinhou.
O mesmo acontece no campo, quando o produtor produz um boi gordo e um touro melhorador. Um boi gordo passa por toda a seleção genética. O touro, também passa pelo mesmo processo, mas só que multiplicado, porque ele necessita ser melhorador e levar as suas características de interesse econômico. Ele tem que valer mais porque demora mais para fazer. “Um boi gordo bem-acabado custa, em média, R$ 2,5 mil, enquanto um touro pode custar de R$ 10 mil a R$ 50 mil”, mediu.
Mão de obra tecnificada - Na fase da cria, um dos custos de produção é o material genético. Para muitas operações, o sêmen custa o mesmo valor, mas, na média, comparando um produtor comercial e um de touros, normalmente o produtor de touros investe mais na genética que ele vai usar em seu rebanho. “O custo genético para o produtor de reprodutores é um pouco maior ou às vezes bem maior do que para o produtor comercial”, afirmou. A produção de reprodutores também exige uma mão de obra mais especializada e, principalmente, deve ser mais tecnificada. “São várias tomadas de dados, necessariamente tem que pesado ao nascer, tem que ser tatuado, tem que ter uma boa rastreabilidade e precisa vir ao curral mais vezes ao longo da vida para tomar várias medições. Isso faz com que a mão de obra custe mais”, ensinou.
A demanda nutricional também é diferente para as duas situações, assim como a seleção genética. A seleção é tão importante para a rentabilidade do produtor comercial como para a do produtor de touros. Mas, obrigatoriamente, ela precisa ser muito bem-feita, os dados precisam ser muito bem medidos e depois muito bem analisados e passados ao cliente pelo pecuarista. “Na minha concepção, a seleção genética para a produção de touros é um pouco mais custosa, até porque ela tem que ser bem manejada, compilada e passada, de forma fidedigna, aos clientes. A seleção genética é outro fator que agrega valor aos reprodutores na hora da venda”, explicou o engenheiro agrônomo. Embora custe menos, a rastreabilidade também tem que ser considerada pelo produtor.
Na recria, o animal que for registrado para reprodutor precisa passar pela avaliação dos técnicos da Associação Brasileira de Brangus (ABB). As informações do animal são encaminhadas ao nascimento, ao desmame e ao sobreano. A inspeção técnica tem um custo ao produtor. O criador que faz análise de carcaça tem que desembolsar um pouco mais devido aos custos com a visita do técnico para fazer a análise da carcaça, compilar e gerar os dados. “Para os animais comerciais, esse custo de registro não existe. Mas o produtor de touros precisa contabilizar esse custo, porque embora seja um pouco menor, ele importa no final”, assinalou Waihrich.
No sobreano, a mão de obra é até mais importante do que na cria e precisa ser mais tecnificada, conforme o profissional. Nessa fase, é preciso fazer suplementação, pois é muito difícil chegar a um animal de 24 meses ou 36 meses em condições de venda em que ele expresse seu potencial produtivo e que seja bonito fenotipicamente. “Ele tem que estar bem apresentado e essa apresentação conta na hora da venda e no momento de a gente fechar a conta no final. O custo suplementação é maior na produção de reprodutores”, disse Waihrich, que ressaltou ainda que os custos de refugo e venda – promoção do remate, marketing e entrega do animal na casa do comprador – também precisam ser contabilizados pelo produtor.
Fator limitante - O engenheiro agrônomo explicou que, tanto para a produção de touros como de animais comerciais, o fator limitante é a vaca. Ele enfatizou que, pouco adianta ter insumos como uma boa semente, forrageiras, usar fertilizantes, ter mão de obra capacitada e uma boa maquinaria agrícola para fazer as operações no tempo certo para implantar as pastagens para os animais, se o produtor não tiver uma matriz de qualidade e se ela não funcionar bem. “A vaca não é o principal insumo, mas pode ser o fator limitante. Se a vaca não transformar estes insumos e essa oportunidade que ela está recebendo em produtividade, o produtor não botará dinheiro no bolso”, destacou.
Em sua operação de cria, a JMT Agropecuária busca uma vaca que produza um terneiro a cada 365 dias ou menos e que, ao desmame, a cria pese em torno de 50% de seu peso vivo. O terneiro também tem que ser fértil e ter precocidade sexual e de terminação. A vaca precisa ser de fácil manutenção e, para isso, necessita ter um tamanho moderado, ter partos normais sem ajuda e apresentar alta habilidade materna. “Ela ainda tem que produzir um terneiro com boa curva de crescimento e que termine pesado e com boa qualidade de carcaça”, acrescentou.
Já os machos devem possuir características de interesse econômico – como ganho de peso, fertilidade e qualidade de carcaça - medidas e acima da média da raça. Outra exigência é que o touro tenha plena sanidade e aptidão sexual para produzir mais terneiros. “E isso passa por uma correta locomoção, sanidade para se locomover bem e sanidade espermática e clínica. Sem isso, ele não consegue fazer seu serviço”, alertou.
Waihrich declarou que a margem operacional da pecuária é muito baixa e sensível, tanto na produção de animais comerciais, quanto na de animais reprodutores. “Ela é sensível aos preços que a gente toma no mercado e à nossa eficiência, em ambos os sistemas de produção”, disse. Ele ressaltou que a eficiência da genética do rebanho é um dos fatores mais importantes e que os produtores mais influenciam é na produtividade e na eficiência do processo produtivo. “Investimento em genética eficiente e melhoradora é fator determinante para a viabilidade do negócio, porque é onde o jogador joga. É aqui que temos de investir e gastar tempo, energia e dinheiro, corretamente e com critério”, concluiu.
Fonte: Gustavo Paes
Fotos: Elder Amaro