Embrapa inicia projeto de melhoramento genético
Pesquisa busca animais com maior resist ência a parasitas e docilidade
Melhorar geneticamente as características da raça sintética Brangus é o objetivo de um dos projetos da Embrapa Pecuária Sul, de Bagé (RS). Este trabalho, iniciado em março, está sendo desenvolvido em parceria com outras três unidadesde pesquisa – Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos (SP), Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande (MS), e Embrapa Clima Temperado, de Pelotas (RS) –, além de outros parceiros. O estudo também inclui a raça Canchim.
Existem demandas do setor produtivo por melhorias em algumas das características da raça, de acordo com o coordenador do projeto da raça Brangus, o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul Marcos Jun-Iti Yokoo. As duas raças foram desenvolvidas no Brasil em fazendas governamentais e, no caso do Brangus, buscou-se unir a rusticidade do zebuíno (resistência a parasitas, tolerância ao calor, habilidade materna) com as vantagens dos bovinos da raça Angus (qualidade da carne, precocidade sexual e elevado potencial materno). Já no caso do Canchim, o cruzamento foi entre o zebuíno e o Charolês.
Yokoo ressalta que a pesquisa tem como objetivo ampliar a base de fenótipos, de genótipos e os estudos de características não convencionais para a aplicação futura no desenvolvimento de três linhagens das duas raças. “A primeira linhagem de Brangus que se objetiva alcançar é uma que seja resistente a parasitas, principalmente ao carrapato. A segunda é a linhagem com temperamento mais dócil. “Os produtores reclamam do temperamento mais agressivo do Brangus do que as outras raças taurinas”, observa Yokoo.
A terceira linhagem será uma linhagem testemunha das duas primeiras e melhorada para as características tradicionais, como peso, características de carcaça e reprodutivas”, explica o pesquisador. Cerca de 300 matrizes Brangus estão sendo utilizadas no estudo.
As primeiras avaliações começaram no momento da desmama, aos sete meses de idade. Os animais receberam marca, brinco de identificação, vermífugo e os carrapatos foram contados. Também foi feita a medição de peso e a velocidade de fuga do brete. Essa última atividade, por exemplo, pretende inferir sobre o temperamento do animal, uma das características visadas no programa de melhoramento. As duas próximas avaliações serão ao ano e ao sobreano dos animais, conforme Yokoo.
“Vamos reunir essas três avaliações e selecionar os pais para a próxima geração”, adianta o pesquisador da Embrapa.
Além dessas medidas, também foram feitos exame de ultrassom nos animais da safra de sobreano.
Para observar o melhoramento genético de gado de corte é necessário cerca de dez anos, ou seja, duas ou três gerações. “Cada geração leva entre quatro e cinco anos para ter a genética atestada, pois os animais precisam crescer e se reproduzir e seus filhos serem provados e selecionados. E nós precisaremos de pelo menos duas gerações para definirmos bem as linhagens com as características perceptíveis e asseguradas do Brangus”, explica o especialista. Aprovado em março passado para quatro anos, o projeto da Embrapa poderá ser renovado por mais oito anos.
BRANGUS
Facilmente adaptável, a raça Brangus é resultado do cruzamento entre a Angus e o zebu. As primeiras experiências foram realizadas em 1912, no Estado norte-americano de Louisiana. O objetivo era a criação de um animal que apresentasse altos índices de produtividade mesmo criado em condições de clima e meio ambiente adversas, típicas das regiões tropicais e subtropicais.
Formada para unir a rusticidade das raças zebuínas com as vantagens da Angus, a Brangus apresenta-se como uma raça completa. Entre as vantagens do animal estão os partos facilitados; altos pesos na desmama e no sobreano; grande ganho de peso, tanto em pasto como em confinamento; fêmeas de reposição com puberdade precoce, enxertando aos 15 meses; além de carne suculenta e macia.
No Brasil, os cruzamentos começaram a ser realizados por técnicos do Ministério da Agricultura, em Bagé, na década de 1940. O resultado do cruzamento resultou na raça Ibagé, batizada assim pelos técnicos na época. Alguns anos depois, em função do cruzamento ser o mesmo alcançado nos Estados Unidos, o nome da raça passou a ser Brangus Ibagé, até que tornou-se apenas Brangus.