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Frigoríficos brasileiros são mal vistos por investidores, diz HSBC

Custos pressionam as margens das companhias, enquanto o real valorizado intensifica a concorrência e afeta as exportações do setor

São Paulo – Os fracos fundamentos dos frigoríficos brasileiros estão tornando o setor “mal visto” entre os investidores, principalmente por conta da valorização do real, que intensifica a concorrência e afeta as exportações das companhias, além do avanço nos preços das matérias-primas (principalmente do milho e da carne bovina nos EUA) que pressionam as margens das empresas.

 

A avaliação é dos analistas Pedro Herrera, Diego Maia e Ravi Jain do HSBC, que alteraram suas projeções para a Brasil Foods, JBS Friboi, Marfrig e Minerva. Em relatório, eles sugeriram cautela aos investidores em relação a estas quatro empresas, apesar de que os motivos apresentados para cada uma delas sejam diferentes.

“No curto prazo, sugerimos aos investidores que continuem à margem e aguardem por catalisadores fortes, como a aprovação da fusão Perdigão-Sadia, evidências de extração plena de sinergias por parte de JBS e Marfrig em suas aquisições agressivas e sinais de desalavancagem relevante através da geração de fluxos de caixa positivos”, afirmaram.

1 Brasil Foods está atrativa; permanecem incertezas sobre Cade

Na opinião do HSBC, as ações ordinárias da Brasil Foods (BRFS3) continuam atrativas. Em termos de fundamentos, os analistas permanecem otimistas em relação à companhia, especialmente diante dos resultados “espetaculares” observados no primeiro trimestre do ano.

No entanto, pesam ainda as dúvidas que cercam a aprovação da fusão entre a Perdigão e a Sadia pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Diante disso, os analistas atribuíram um preço-alvo de 33,30 reais para os papéis da companhia em 12 meses.

A cifra representa um potencial de alta de 25,66% frente à cotação de 26,50 reais vista no fechamento do último pregão. A recomendação estabelecida é neutra, mesmo apesar empresa registrar melhor performance que o Ibovespa no acumulado do ano.

“Os eventos das últimas semanas aumentaram a possibilidade de desinvestimentos consideravelmente acima das expectativas iniciais. A empresa continua a negociar e a discutir possíveis alternativas para chegar a um consenso com os membros do Cade e obter a aprovação definitiva da fusão”, declararam.

“Neste momento, é muito difícil fazer uma estimativa precisa do tamanho dos possíveis desinvestimentos. Para nossa avaliação, assumimos hoje um desinvestimento de 10% da receita (2,6 bilhões de reais) com um efeito de 10% (50 milhões de reais) sobre as sinergias esperadas”, acrescentou.

2 Risco de aquisição e diluição de ações afeta JBS

Apesar da plataforma globalmente diversificada do JBS Friboi (JBSS3) e dos resultados recentes relativamente positivos, com exceção do segmento de aves nos Estados Unidos, o HSBC acredita que as ações da empresa devem ser afetadas, no curto prazo, pelo temor do mercado de que a companhia realize novas aquisições, além da diluição de papéis gerada pela conversão de debêntures do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Os analistas Pedro Herrera, Diego Maia e Ravi Jain atribuíram um preço-alvo de 6,40 reais para os papéis ordinários da companhia em 12 meses, o que representa um potencial de valorização de 18,95% diante da cotação de 5,38 reais vista no encerramento da última sessão. A recomendação é “neutra”.

Em relatório, eles citaram também o parecer da Secretaria Especial de Acompanhamento Econômico (SEAE) do Ministério da Justiça, que sugeriu a aprovação da fusão entre JBS e Bertin com ressalvas.

O documento sugere o desinvestimento dos frigoríficos presentes nos estados de Goiás e Minas Gerais. Apesar disso, a companhia ainda aguarda pela aprovação completa do acordo pelo Cade.

“É preciso levar em conta que o parecer da SEAE não é vinculante, e sim uma recomendação ao CADE”, lembra o HSBC.

Como potenciais riscos de alta para as ações, o banco indica sinergias maiores que as esperadas com a Bertin e a compra da Pilgrim’s Pride, além da integração de ativos existentes e nenhuma aquisição inesperada.

3 Alavancagem alta torna a Marfrig a “mais fraca” do setor

A Marfrig (MRFG3) foi classificada pelo HSBC como a companhia “mais fraca” entre as empresas na qual os analistas realizam a cobertura das ações, isso porque a compra da Kleystone – embora tenha sido considerada positiva pelos analistas do banco – trouxe algumas surpresas.

Segundo Pedro Herrera, Diego Maia e Ravi Jain, a aquisição adicionou peso e alcance global ao perfil da Marfrig, mas também ocorreu durante o período de sinergias com a Seara e o financiamento adicionou ônus de juros “muito significativos” para a empresa.

Com a Marfrig extraindo sinergias “de forma lenta” e as margens operacionais permanecendo fracas, a alavancagem da empresa continuou a aumentar no decorrer do primeiro trimestre do ano. Não apenas isto, a companhia ainda levantou 750 milhões de reais por meio de uma emissão debêntures. Tudo isso afeta a capacidade da empresa de gerar fluxos de caixa livre.

Apesar da falta de evidências, segundo os analistas, a “Marfrig reconhece esse fato e afirmou que espera divulgar fluxo de caixa livre positivo até o final de 2012”.

Diante deste cenário, o HSBC estabeleceu um preço-alvo de 15 reais para as ações ordinárias da Marfrig até junho de 2012, o que representa uma desvalorização de 2,59% ante a cotação de 15,40 reais alcançada no fechamento de ontem. A recomendação é underweight (alocação abaixo da média do mercado).

4 Fluxos de caixa negativos ainda afetarão Minerva

Para o HSBC, a Minerva (BEEF3) continuará a crescer a um ritmo de dois dígitos, embora seguirá afetada pela alta alavancagem, possível diluição decorrente da emissão de debêntures conversíveis e a falta de exposição aos produtos processados de margem mais alta.

Em relatório, os analistas do banco atribuíram o preço-alvo de 6,10 reais para as ações ordinárias do frigorífico em até 12 meses, o que representa um potencial de ganho de 24,74% frente a 4,89 reais observado no fechamento do último pregão. A recomendação é neutra.

“Ao contrário de seus pares, a Minerva focou no crescimento por meio de projetos novos e existentes, em vez de aquisições. Entretanto, em meio ao crescimento robusto, a alavancagem da empresa aumentou substancialmente”, destacam.

Para aliviar as preocupações, a Minerva anunciou que o conselho de administração aprovou a emissão de 300 milhões de reais em debêntures conversíveis com vencimento de quatro anos (junho de 2015). “Apesar de as debêntures ajudarem a companhia a reduzir sua dívida bruta de modo geral, as despesas com juros continuam pelos próximos quatro anos e a conversão das debêntures em ações resultarão em diluição significativa para os acionistas existentes”, avalia o HSBC.

Os analistas sugerem que a companhia aposte em produtos processados que tende a trazer maiores margens (produtos de valor agregado e geralmente de marca) e que tornam mais fácil para as empresas o repasse dos maiores custos de insumos.

FONTE:EXAME.COM/MARCEL SALIM