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IBGE Errou No Censo Agropecuário

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) errou no cálculo do índice de Gini da terra, o que levou à interpretação equivocada de que a concentração de propriedades rurais crescera no país num período de dez anos, findo em 2006.

Na realidade, o indicador, o mais importante do Censo Agropecuário do instituto, manteve-se praticamente estável, com ligeira redução de apenas 0,002 ponto percentual.

Quanto mais próximo de 1, o índice de Gini indica uma distribuição mais desigual. Quanto mais perto de zero, menor é o nível de concentração.

Há pouco mais de um mês, o IBGE havia divulgado que o índice ficara em 0,872 em 2006, acima do 0,856 do censo realizado nos anos de 1995 e 1996. O dado foi corrigido ontem para 0,854 -ou seja, pouco abaixo do de 2006. A informação incorreta do IBGE foi publicada na Folha em 1º de outubro.

O IBGE alega que houve falha em seus sistemas de processamento do cálculo do Gini, feito a partir dos dados básicos da pesquisa de cada uma das propriedades investigadas.

O erro só foi descoberto após o professor de economia da Unicamp Rodolpho Hoffmann entrar em contato com o instituto e alertar para o equívoco no Gini do país -nos demais dados, o especialista não apontou correções a serem feitas. A reportagem procurou Hoffmann, mas ele não foi localizado.

O gerente do Censo Agropecuário, Antonio Carlos Florido, diz que o erro não é grave. Isso porque não houve problema na coleta dos dados, mas sim nos sistemas de processamento. "O que deve ter ocorrido é que o sistema não "leu" um pedaço dos dados", diz.

O técnico não crê que tal erro comprometa a credibilidade do órgão oficial de estatística do país. "Não afeta porque não houve erro nos microdados, nos dados primários."

O índice de Gini é, porém, o indicador-síntese do Censo Agropecuário e, pelo resultado divulgado incorretamente pelo IBGE, retratou uma realidade distante da verdadeira.

O IBGE informa que não há prejuízo em outros dados do Censo nem mesmo do índice de Gini dos Estados, que não são usados diretamente para calcular o Gini do país.

Para a diretora de Pesquisas do IBGE, Wasmália Bivar, o erro atingiria a credibilidade do órgão se tivesse sido omitido. "O erro aconteceu até pelo tamanho do censo. O IBGE tem compromisso com as informações que divulga. Essa é a principal questão. Descoberto o erro, tem de dar transparência. Não podemos esconder."

Ela afirma que todas as tabelas foram "conferidas muitas vezes", mas que o erro passou. Ganhou importância, avalia, justamente por se tratar do indicador-síntese da pesquisa e de o dado corrigido mostrar a tendência inversa - de menor concentração, e não de maior.

Bivar minimiza a importância do Gini e diz que ele não pode ser analisado isoladamente. Para avaliar as condições de vida e a concentração de terra, é preciso, diz, levar em conta produtividade, renda, emprego e escolaridade do produtor. "O índice de Gini não qualifica a concentração. Apenas indica se ela aumentou ou não. Às vezes o arrendamento de propriedades [que não é captado] pode resultar em maior distribuição de renda [para os donos da terra]. Porém ele representa o aumento da concentração. Se ela é boa ou ruim, depende do ponto de vista", afirmou Florido, à época da divulgação do Censo Agropecuário.

Fonte: Folha de São Paulo