Importância do tamanho da vaca
A energia requerida por um rebanho típico de vacas é aproximadamente 6,8 vezes a demandada por suas crias ate a desmama (long & Fitzhugh, 1969). Mas só bezerros geram faturamento. Portanto, para aumentar o rendimento do sistema, é preciso aumentar a relação entre dinheiro produzido e capim consumido. Como a quantidade de recursos forrageiros é supostamente fixa, a prioridade de atuação deve ser focada no aumento do numero de produtos e, se possível, de seu valor unitário.
No lugar de 1000 vacas de 500kg cabem 1140 vacas de 420 kg. Como não se mantém vaca solteira num sistema produtivo bem azeitado, o controle do tamanho da vaca propicia aumento significativo na produção de bezerros. No caso deste exemplo fictício, são 14% a mais de bezerros desmamados a cada ano. Mas esta solução não é tão simples como parece. Fêmea pequena gera filhos menores, de desenvolvimento mais lento que o de filhos das vacas maiores. Mesmo produzindo mais bezerros, a vantagem pode se esvair se eles forem de qualidade inferior.
Para quem usa IATF, felizmente existe uma solução para este dilema, que é o emprego de cruzamentos e repasse por touros Nelores de características terminais. Com isso se obtém a dupla vantagem de vacas pequenas (que darão mais bezerros por unidade de área) desmamando filhos de valor unitário igual ou superior ao das crias das vacas de 500 kg.
Para produzir as fêmeas precoces de reprodução do rebanho, deve-se usar na IATF das novilhas sêmen de touros Nelore com características maternais, com o repasse sendo feito também por touros com características maternais. Esses animais são aqueles do tipo “caixote”, com membros mais curtos e grande profundidade torácica. Aparentam ser mais curtos e apresentam alto perímetro escrotal ao sobreano, com sinais evidentes de acabamento precoce. Touros com características terminais são os que tiveram alto ganho de peso quando comparados com seus contemporâneos, apresentando ainda membros mais longos e carcaça comprida. Recomenda-se que touros com estas características só sejam adquiridos se possuírem boa cobertura de carne.
Convém manter na fazenda todas as fêmeas nascidas, até a idade de cerca de 24 meses. No mês de setembro anterior à sua primeira monta, elas são cuidadosamente inspecionadas, devendo-se direcionar para o lote-refugo as que apresentem:
a) Mau desenvolvimento e suas variações: caquexia, guaxa, intoxicação no presente ou no passado.
b) Inadaptação: magreza, ataque de ectoparasitas, pelagem grosseira.
c) Indícios de subfertilidade: vulva infantil, conformação leonina, musculatura de culote muito desenvolvida, excessiva longilineidade, machorra.
d) Inadequação funcional/defeitos: aprumos, cascos, ligamentos de quartela fracos, andamento, dorso-lombo, temperamento bravio, temperamento nervoso, prognatismo, agnatismo, bico-de-pato, desvio de chanfro significativo, despigmentação exagerada.
Feito isso, agora é o momento de eliminar deste lote selecionado o florão, descartando as 10 a 15% mais bonitas e de melhor desenvolvimento. Elas serão excelentes animais de engorda, e não faltarão compradores interessados. Contrariando o que manda o coração, deve-se descarta-las sem piedade.
O lote remanescente constituirá a reposição anual do rebanho. Estas novilhas deverão ser direcionadas aos melhores pastos da fazenda, em companhia de rufiões – machos íntegros que não conseguem emprenha-las e que vão contribuir para o amadurecimento sexual delas.
Já é tecnologia de uso corrente, cerca de 40 dias antes da IATF das novilhas, a implantação de dispositivos, intravaginal de progesterona previamente utilizado em outras vacas. Este dispositivo terá sido usado anteriormente três vezes, num total de 24 dias, e normalmente seria descartado. Conforme Ayres et al. (BeefPointe, junho 2009), a pouca quantidade de hormônio remanescente, ao ser deixada agindo durante cerca de dez dias, colabora para a indução de ciclicidade em parte significativa das novilhas Nelore não cíclicas, ou seja, com útero atônico (sem contração) e ausência de corpo lúteo (CL).
Para melhores resultados, uma revisão das novilhas por veterinário especializado em ultrassom deve posteriormente ser feita para dividir o lote em duas partes, a serem trabalhadas com um intervalo de um a dois meses. Com isso, parte das novilhas que ainda estejam acíclicas ganha um tempo adicional para amadurecer sexualmente.
Vale a pena usar sêmen sexado (SSF) sobre as novilhas, por vários motivos. Um deles é que o SSF proveniente de touros Nelore com características maternais gera as fêmeas de reposição ideais, ao mesmo tempo em que restringe a produção de seu indesejável irmão, o boi-bolinha, boi de corte que dá acabamento de abate com carcaça muito leve. Outra razão é que são evitados problemas de parto, que poderiam ocorrer se fosse usado sêmen de taurinos ou de Nelore com características terminais. E, finalmente, porque novilhas são as fêmeas em que se consegue o máximo aproveitamento do sêmen sexado. Uma expectativa razoável, usando IATF com SSF, é de cerca de 40% de “pegamento”
A matéria é do Engenheiro e pecuarista Humberto de Freitas Tavares, publicada na Revista AG (2010).