JOSÉ AUGUSTO DA CUNHA JR – CRIADOR DA SEMANA
Um desejo: “Para a nossa Raça Brangus: a perseverança em buscar o merecido lugar de destaque”
Quanto mais se pesquisa sobre a pecuária, mais se constatam as vantagens da raça Brangus. Assim como muitos pecuaristas, antes de se tornar criador, José Augusto da Cunha Júnior, pesquisou. Sócio número 300 da Associação Brasileira de Brangus, percebeu o potencial da raça, quando viu que em países como EUA, Austrália, Argentina, Uruguai, Canadá, entre outros, o Brangus era dominante. Os resultados eram conclusivos e o convenceram. Passou a criar Brangus em 1997, na fazenda Vera Cruz, em Bauru, SP. Para ele, ter dedicação, investir em bons animais, com manejo adequado, estrutura racional, sorte e amor no que se faz, garantem o reconhecimento do seu trabalho. Hoje ele compartilha um pouco de sua experiência em uma entrevista exclusiva ao quadro CRIADOR DA SEMANA.
Associação Brasileira de Brangus – Quais as qualidades que vê na raça Brangus?
José Augusto da Cunha Júnior – Qualidades da raça Brangus: Precocidade sexual e de acabamento, aliadas a inigualáveis características de carcaça (maciez, marmoreio, suculência e padronização); Rusticidade competitiva, permitindo a criação extensiva, sem onerar custos de produção; Variabilidade genética, permitindo o aporte de novos genes sempre que necessário, favorecendo o ganho extra do vigor híbrido.
ABB – O que o fez decidir pela raça?
José Augusto – A decisão de nos tornarmos criadores levou-nos a pesquisa, onde constatamos a excepcional qualidade de carne Angus e Hereford, e suas sintéticas Brangus e Braford, com preços diferenciados em países de melhor poder aquisitivo. Constatamos que nos paises grandes produtores de carnes como EUA, Austrália, Argentina, Uruguai, Canadá, além de alguns outros, as raças eram dominantes. E isto não seria por acaso. Certificação internacional de qualidade de carne, também somou como fator determinante em nossa decisão.
ABB – Em sua fazenda, qual o principal segmento que trabalham com a raça Brangus?
José Augusto – A principal atividade é a difusão de genética melhoradora, através da comercialização de Reprodutores e Matrizes para outros plantéis. Em função da pressão de seleção, exigida pelo competitivo mercado, são comercializados como gado de corte diferenciado aqueles animais com características inapropriadas para reprodução.
ABB – Recentemente, sócios da Associação estiveram em uma exposição no Paraguai e notaram que lá, a primeira raça em criação é o Brangus. Acredita que no Brasil, a raça pode chegar a patamar parecido?
José Augusto – No mercado de gado de corte, principalmente visando atingir nichos específicos de carnes nobres, acredito que atualmente a Raça Brangus já seja líder, disparando na frente das outras raças no rebanho nacional. Em números absolutos tenho dúvidas a curto prazo de virmos a ser como o Paraguai, pois nossas condições territoriais e climáticas são bastante diferentes, além da tendência natural do pecuarista brasileiro, em favor dos zebuínos. Embora com este panorama atual, acredito que a médio prazo caminharemos na direção de grande participação a partir deste momento de retomada clara de procura pela raça que criamos. Acredito que, ainda neste ano, haja grande crescimento na venda de sêmen de Angus, que no entusiasmo do cruzamento industrial, há poucos anos, chegou a ser líder de venda de sêmen. No momento em que participamos de declarações conjuntas com outros cruzamentos, nos igualamos a outros cruzamentos que não iam bem no criatório nacional. O criador brasileiro nestes últimos anos vem trabalhando e percebendo a necessidade de melhoria em sua produção, tecnificando-se melhor. E aos poucos verifica que a Raça Brangus caminha bem no centro oeste, e com a melhoria de pastagens, torna-se quase que opção única, pois se adapta muito bem no clima quente. A novilha cria com um ano de antecedência, e macho e fêmea engordam também com um ano de antecipação sobre as raças zebuínas. Na engorda em confinamento verifica-se a grande distância de ganho de peso e antecipação de idade. São fatores de indiscutível clareza.
ABB – O cruzamento industrial, como é o caso da raça Brangus, já passou por períodos de descrença pelas cadeias frigoríficas. Como isso é visto atualmente pelo mercado? Na hora de negociar seu produto, ser proveniente de cruzamento industrial, especificamente da raça Brangus, facilita ou dificulta a comercialização?
José Augusto - O mercado atual brasileiro, grande e crescente, é ávido por produtos diferenciados, especialmente os cruzamentos de Brangus, facilitando bastante sua comercialização e remunerando de maneira diferenciada os produtos da Raça Brangus. Soma-se a isso o enorme crescimento de poder aquisitivo da classe C, atingindo hoje cerca de 48% do mercado. Enormemente significativo no consumo de carne onde a procura por produtos de melhor qualidade é inevitável.
ABB – Em relação à genética, qual a importância de trabalhos de melhoramento no rebanho Brangus?
José Augusto – A importância do trabalho de melhoramento genético na Raça Brangus é, principalmente, no sentido de se conhecer as melhores linhagens para as várias características de relevância econômica, como: precocidade sexual e de acabamento, habilidade materna, fertilidade, características de carcaça, entre outros.
ABB – Que animais do seu plantel hoje estão em posição de destaque? Existe algum reprodutor em centrais de embriões?
José Augusto – Em breve voltaremos a participar de mostras e julgamentos nas exposições da Raça Brangus. Já temos alguns bons destaques em preparo. A fazenda Vera Cruz possui sêmen à disposição de dois touros: GAP Mister M (já morto) e de Juquiry 2468 Don Otoño, ambos coletados na Alta Genética e Central Bela Vista. Outros dois touros crioulos nossos, vendidos para duas centrais: Vera Cruz 1304 Nacional, na Central Bela Vista, e seu atual proprietário, e Corticeira 3117 Samba, de propriedade da Alta Genética.
ABB – Para obter sucesso com a raça, qual o segredo?
José Augusto – Como em toda criação de animais, acredito que com dedicação, bons animais, manejo adequado, numa infra-estrutura racional, uma dose extra de sorte e, claro, o amor em tudo o que se faz, o reconhecimento vem com o tempo.
ABB – Aos criadores, que como você, já estão há algum tempo na raça, o que recomenda?
José Augusto – Sucesso, para todos os bons amigos criadores e para aqueles que estão iniciando na arte da criação e, principalmente, para a nossa Raça Brangus, a perseverança em buscar o merecido lugar de destaque. Sucesso e bons negócios a todos.