Mataboi envia primeiros esclarecimentos sobre RJ
O frigorífico Mataboi enviou ontem ao BeefPoint, por intermédio do seu diretor administrativo e marketing, Rubens Vicente, os primeiros esclarecimentos sobre o pedido de recuperação judicial. Pedimos a realização de uma entrevista por telefone. Se você tiver alguma pergunta específica, por favor comente no espaço abaixo. Vamos manter informações atualizadas sobre mais esse pedido de RJ.
Abaixo publicamos as principais partes do esclarecimento enviado por email. Os tópicos sublinhados são anotações do BeefPoint, que também resumiu, deixando apenas as partes mais importantes.
Histórico
A MATABOI foi fundada em 1949, e em 1974, o Frigorífico Mataboi Ltda. torna-se uma Sociedade Anônima de capital fechado. A partir de 2.007, a empresa passou a operar plantas frigoríficas em pontos estratégicos, nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Goiás, crescendo e ampliando sua capacidade diária de abate de animais. Hoje tem capacidade de abate de 2.800 cabeças, dividida em quatro plantas.
Números atuais
Chegou a empregar cerca de 4.000 funcionários até 2010, o que representa mais de 40.000 empregos indiretos. Hoje, conta com cerca de 2.000 funcionários. Possui mais de 2.000 clientes cadastrados no mercado interno brasileiro, com vendas para redes de supermercados, fabricantes de derivados de carne, varejões, açougues etc.
Mercado
Possui hoje um valor estratégico para o mercado em função da recente consolidação do setor, que pressiona todos os participantes da cadeia a investirem, para não serem ultrapassados por seus concorrentes.
Crise de 2008
Contudo, por razões estranhas à sua vontade e imprevisíveis - até 2007 a empresa tinha uma situação financeiramente estável, a MATABOI sofreu de forma aguda os efeitos de uma das maiores crises financeiras da história mundial.
Apesar do aumento do volume de receitas no exercício de 2008, o seu resultado líquido foi drasticamente reduzido.
Razões para a crise
Entre as principais razões desta sua crise passageira, destacam-se a redução da oferta de matéria prima (boi), a crise de confiança no setor e a queda expressiva no volume das exportações brasileiras. O surgimento da crise econômica, ampliada em setembro de 2008, que começou nos Estados Unidos e se alastrou pelo mundo, provocou uma forte queda no consumo internacional de alimentos, prejudicando as empresas nacionais que vendiam carne para todo o mundo.
Porém, nenhum destes fatores negativos foi mais nocivo à empresa e ao ramo frigorífico como um todo quanto a ação agressiva da concorrência. Alguns grandes grupos passaram a investir vultosas quantias no mercado frigorífico, municiados por financiamentos públicos obtidos mediante muitas promessas de investimento na capacidade de abate brasileira como um todo (sendo que parte destas promessas não foram cumpridas, deixando somente alguns frigoríficos extremamente capitalizados).
Concorrência pesada
Estes grandes grupos inundaram o mercado com compras gigantescas de gado, fazendo com que o preço desta matéria prima básica disparasse. Por outro lado, estes mesmos grandes grupos, ao adquirirem carne em excesso, negociaram com os grandes grupos de varejo e inundaram o mercado com carne barata, criando assim uma grande crise por demanda.
12 RJs em 2 anos
No meio de toda esta nova realidade, se achavam o Mataboi e outras empresas do ramo, que, não financiadas por dinheiro público, encontravam o pior cenário possível: preço alto para a compra do gado, preço baixo para a venda da carne.
Tanto é verdade, que nos últimos 24 meses, dentre as quinze maiores companhias de abate de bovinos, 12 empresas pediram recuperação judicial até o momento.
Financiamento privado
Para tentar competir, esta empresa, que em sessenta anos de história nunca se utilizou de financiamentos públicos, só poderia buscar recursos no mercado financeiro privado. Mas com a crise econômica mundial, os juros para financiamento de produção ficaram altos, bem como ficou raro o acesso ao crédito. Esta escassez de crédito se alastrou, prejudicando a MATABOI diretamente, e provocando uma forte desaceleração no crescimento da economia, o que debilitou ainda mais o faturamento da empresa, bem como sua rentabilidade.
Em conseqüência, esta empresa encontra-se em episódica crise econômico-financeira, apesar dos mais diligentes esforços de seus administradores para vencê-la, como a busca de novos investidores e de recursos no mercado financeiro para formação de capital de giro e um necessário corte de custos.
Receita bruta
Porém é indiscutível a viabilidade operacional da empresa. No exercício de 2008, apesar da crise mundial, teve receita bruta superior a R$ 695 milhões. Em 2009, com recuperação parcial da economia mundial, obteve a impressionante receita bruta de vendas no valor total de R$ 1,023 bilhão acumulados. No exercício de 2010, apesar de já sofrer os efeitos de sua crise, obteve-se uma receita bruta de vendas no valor de R$ 1,158 bilhão.
Banco BTG Pactual retirou linha de crédito
Somando-se a todo este contexto negativo, a empresa também foi vítima de inesperados e desmotivados bloqueios de recursos em conta bancária de sua titularidade, chegando a sofrer bloqueios de mais de R$ 2 milhões em um único dia, perpetrados por uma instituição financeira (Banco BTG Pactual) que se sentiu justificada em assim agir em garantia a cédulas de crédito bancário que vinham sendo regularmente pagas, e em que pese tais créditos já se encontrarem garantidos por outras modalidades previstas em contrato. Tal situação é objeto de demanda judicial envolvendo as partes.
Abates retomados
Continua em normal atividade em sua sede em Araguari fazendo desossa e corte, tendo somente paralisado o abate por uma semana, abate esse retomado nessa data.
Plano nos próximos 60 dias
Apresentará em cerca de 60 dias um plano de reestruturação e de como pretende pagar seus credores. Seu passivo está em torno de R$360 milhões, basicamente com bancos e fornecedores, e seu faturamento em 2010 foi R$1,158 bilhão.
A recuperação judicial tem como advogado Julio Kahan Mandel, de Mandel Advocacia, e como consultora a empresa Erimar Consultoria, as mesmas que recentemente representaram a Frigol, que teve seu plano de recuperaçao aprovado pelos credores semana passada.
Comentários BeefPoint:
- Nos esclarecimentos apresentados, a empresa não comentou sobre seu resultado líquido (lucro), apenas sobre o faturamento.
- Os pecuaristas precisam de mais empresas abatendo, para que haja maior concorrência.
- Mais um pedido de RJ que comprova a necessidade dos pecuaristas venderem apenas a vista.
- Outra opção é desenvolver um método de avaliação de crédito dos frigoríficos, o que não é muito fácil. Temos conhecimento apenas de uma associação de pecuaristas que realiza esse trabalho, com sucesso: a ACGC Norte MG.