Necessidade de intensificação na produção de bovinos de corte

O Brasil passará de 181,7 milhões de hectares (ha) de pastagens em 2011 para 176,3 milhões em 2022, perdendo então 2,97% de área de pastagens. Já as lavouras crescerão de 48,6 milhões de ha em 2011 para 58,5 milhões de ha em 2022, um incremento de 20,37% (Outlook Brasil 2022). Apesar dessa perda de área para agricultura, existe uma previsão para que as exportações de carne bovina tenham um crescimento anual de 4,3% de 2012 a 2022.
Além disso, o novo código florestal determina que os produtores adequem suas propriedades a algumas exigências, como a recomposição de áreas desmatadas com espécies nativas de acordo com o bioma, o que reduzirá ainda mais as áreas efetivas de pastagem da pecuária.
Na contramão desses fatos, o Brasil sempre apresentou uma característica extrativista e extensiva, com baixos índices de produtividade. A alternativa que resta aos produtores é a intensificação, que não deve mais ser encarada como um mito pelos produtores, e sim como uma realidade que pode elevar a rentabilidade de seu negócio.
Pode-se definir intensificação como a racionalização do uso dos recursos limitantes no processo de produção. Ou seja, seria a aplicação de técnicas de forma a utilizar todos os recursos ligados à produção da melhor forma possível, maximizando o resultado financeiro do produtor por meio de aumento da produtividade (@ produzidas/ ha/ ano).
É importante deixar claro que não existe receita certa a seguir, ou sistema de produção ideal, pois cada propriedade e cada região possuem suas particularidades que devem ser levadas em consideração no processo de intensificação. No entanto, alguns fatores importantes devem ser ressaltados e valem para todos os que pretendem intensificar sua produção.
O fator humano é um ponto chave da intensificação. O proprietário deve ser ter um elevado nível de envolvimento com o sistema de produção, ou ter uma pessoa de confiança que assuma tal papel com autonomia e excelência. Os funcionários devem ser treinados para essa nova forma de produção. Se for possível, antes da implantação é interessante levá-los a uma propriedade que já trabalha com manejo semelhante ao proposto. Isso ajuda a criar referência e a entender melhor os reais objetivos da intensificação.
A localização da propriedade também é um ponto importante, pois a compra de insumos e a venda de produtos apresentam alta correlação com o resultado financeiro. É necessário realizar um estudo que liste os principais insumos que serão utilizados na propriedade para, a partir daí, levantar a distância das principais empresas que realizam a comercialização destes produtos, além dos possíveis clientes. Todas essas informações servirão como base para uma negociação bem feita, reduzindo o custo de produção, melhorando as vendas e aumentando a margem de lucro do produtor.
O pastejo deve permitir a maximização da produção animal sem prejudicar em nenhum aspecto as plantas forrageiras. Ao pensar em intensificar a produção, as divisões de pastagens devem ser o primeiro passo observado na propriedade, pois tem o intuito de maximizar o aproveitamento das forragens. Para que seja feito um correto trabalho de redimensionamento da fazenda é muito interessante que se tenha os mapas. Através dos mapas é possível inserir os pontos de divisão atrelados à água e cocho, além de se obter a real dimensão da propriedade e consequentemente do valor a ser investido e seu potencial de produção.
A suplementação é outra importante ferramenta de intensificação. O objetivo dela é melhorar a conversão alimentar de animais em pastagens, encurtar ciclos reprodutivos, reduzir ciclos de crescimento e engorda e aumentar a capacidade suporte dos sistemas produtivos. Isso aumenta a eficiência de utilização das pastagens e supre a deficiência de nutrientes encontradas nelas nas diferentes épocas do ano, assim gerando um incremento na produtividade (@ produzidas / ha / ano). Essa prática deve estar alinhada a uma meta estabelecida de produção, ao fluxo de caixa da propriedade, ao clima regional, para então analisar-se a viabilidade econômica e definir qual o nível de suplementação, período e categorias que irão receber.
O confinamento estratégico caracteriza-se como outro instrumento de intensificação em pecuária de corte. Tem se tornado um ótimo casamento com os sistemas de produção intensificados a pasto, pois proporciona diminuição drástica na taxa de lotação da fazenda no período seco, retirando os animais a serem terminados e permitindo a entrada da reposição, além de proporcionar vantagens já conhecidas, como elevados valores de ganho de peso em curto período, carcaças melhor acabadas, melhor rendimento de carcaça, venda de animais acabados durante a entressafra do boi, giro do capital mais rápido devido ao encurtamento do ciclo de produção e maior produção de @/ha/ ano.
Porém, é importante analisar os custos de investimento com instalações, máquinas e os custos elevados com ração concentrada e volumoso servidos no cocho, mão de obra específica e disponibilidade de insumos na região.
Sugere-se que na intensificação de sistemas de gado de corte, a propriedade inicie em uma pequena área (aproximadamente 20% do tamanho total). Essa área servirá de aprendizado para todos os envolvidos no processo. A área deve ser preferencialmente a melhor área da propriedade, a fim de reduzir custos com correção e adubação no primeiro ano. Nos anos que seguem o processo de intensificação, será implantado em toda a propriedade, porém o nível de crescimento estará atrelado à capacidade de investimento do produtor, podendo ser completa já no segundo ano ou crescente de acordo com seu fluxo de caixa e geração de renda com o próprio sistema.

* Vitoriano Dornas é médico veterinário da Rehagro

Fonte: Rehagro / Rural Centro

Anterior
Anterior

JBS: Preço de venda da carne bovina já subiu 20% em 2014 no País

Próximo
Próximo

Seis Estados defendem a padronização da inspeção sanitária