Pastagem adapta-se a mudanças climáticas
Um dos grandes temores relacionados ao aquecimento global é o prejuízo na produção de alimentos, uma vez que diversas plantas devem ter produtividade afetada em um ambiente mais quente. No caso das pastagens, o problema pode afetar o abastecimento de carne e leite, uma vez que no Brasil, um dos maiores produtores mundiais desses alimentos, o gado é criado a pasto.
Mas um estudo conduzido por pesquisadores do Departamento de Biologia da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto (SP) e publicado em junho na revista Environmental and Experimental Botany mostra que os 2°C de aumento estimado de temperatura pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês) não só não afeta, como favorece a fisiologia e os processos bioquímicos e biofísicos envolvidos no crescimento de plantas forrageiras como a Stylosanthes capitata vogel, leguminosa usada para pastagem de gado bovino no Brasil.
“O aumento de 2° C na temperatura do ambiente em que a Stylosanthes capitata vogel foi cultivada experimentalmente favoreceu a fotossíntese, além do aumento das folhas e da biomassa da planta”, afirmou o coordenador do estudo Carlos Alberto Martinez à revista da Fapesp durante workshop “Impacts of Global Climate Change on Agriculture and Livestock”, realizado em 27 de maio, na sede da agência paulista de fomento à pesquisa que apoiou a realização do projeto. No experimento, as plantas foram cultivadas em temperatura mais elevada por 30 dias, quando foi medida sua conversão de energia fotossintética, e feitas as análises bioquímicas e de massa.
Segundo Martinez, a planta estudada é uma importante leguminosa forrageira em regiões tropicais e subtropicais e que pode se desenvolver em ambientes arenosos e secos.
Suscetibilidade ao calor
O resultado já não foi favorável para a forrageira Panicum maximun e para a Brachiaria decumbens, principal planta forrageira do Brasil, onde também conhecida é como capim-mombaça. Nesse caso, o estudo foi conduzido no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba (SP) e também da USP.
Esse resultado “pode ter uma série de implicações para o uso dessa planta como forrageira, utilizada em mais de 80 milhões de hectares de pasto no Brasil”, afirmou Raquel Ghini, da Embrapa e uma das autoras desse estudo à Fapesp.
Para Martinez, da USP, “a solução para cultivar pasto em áreas suscetíveis à seca poderá ser a irrigação ou a utilização de espécies resistentes à deficiência hídrica e adaptadas às mudanças climáticas”.
Fonte: Sou Agro