Raça Brangus Chega Em Angola: Confira Entrevista

O criador e sócio da Associação Brasileira de Brangus, Francisco Palácios Júnior, conta em entrevista exclusiva para o site da brangus como será seu novo desafio: O de levar a raça brangus para Angola, um país africano que recebe os brasileiros de braços abertos e tem condições tão boas quanto as daqui.

1) Conte-nos como surgiu o interesse pela raça brangus e por que a escolha por essa raça.

F.P.J. Começou  na faculdade ao ver vários trabalhos científicos, mencionavam desempenho  em reprodução, desenvolvimento de carcaça e qualidade da carne do Angus e Brangus. Paralelo a isso  fui fazer um estágio em Campo Grande-MS,  quando o Projeto Natura dava os primeiros passos. Comprei cinco touros Brangus para repasse do Sr.  Edmundo Benites e Ronaldo, resolvi inseminar algumas vacas nelore e digo que foi difícil até comprar o sêmen. A minha região era terra do zebu (hoje é cana de açúcar) imagina o alvoroço de nascer um bezerro preto pequeno. Foi terrível agüentar a gozação, mas para meu conforto só durou três meses. Os bezerros meio sangue e três quarto foram desenvolvendo e o feitiço virou contra feiticeiro. Na desmama fiz questão de pesar a bezerrada e o cruzamento foi impiedoso bateu muito ..... Alguns desses animais ao serem desmamados foram direto para confinamento e conseguimos emprenhar fêmeas aos 12 meses e machos foram abatidos aos 16-17 meses com 450 kg. O fato marcante é que deixamos um  exemplar para experimentar a carne. Dona Lourdes (mãe) decide que o músculo teria de ir para a panela de pressão .. e a carne derreteu. Depois das experiências resolvi comprar uns animais puros de origem Gap, Confusão, HP, Sta. Cruz entre outros.

2) Como e senhor vê a atual conjuntura da pecuária nacional especialmente agora que existe um aumento da procura pelo cruzamento industrial?

F.P.J. Apesar de hoje não estar tão presente no Brasil enxergo com preocupação a conjuntura da pecuária nacional, são leis ambientais e sociais descabidas, concentração dos frigoríficos. Até parecem que esquecem que a atual condição econômica conquistada se deve muito à agricultura e pecuária. Quanto ao cruzamento industrial,  é a ferramenta para se produzir carne de qualidade com eficiência na propriedade. Houve tempo em que se falava que boi de cruzamento não dava cobertura. É que infelizmente o produtor brasileiro acreditava que bastava fazer o cruzamento e os problemas de alimentação, sanidade e manejo estavam resolvidos. Quem tem boa alimentação, manejo e sanidade nunca deixou de fazer cruzamento, ainda mais com Brangus e Angus . Esse assunto rende muito vamos para a prosa principal...

3) Como surgiu a possibilidade da parceria com a fazenda em Angola?

F.P.J. A primeira viagem foi em 2008 a convite de um amigo, para analisar o potencial produtivo da pecuária de Angola. Em 2009 conheci o Sr. Francisco Soma Sili, titular das Organizações Sili (atua no ramo da hotelaria, transporte, posto de combustíveis  e construção civil) e da recém criada Coangra  (divisão que cuida das fazendas ,representações e  fábrica de rações).

4) Conte um pouco sobre a história de Angola e atual conjuntura econômica do país.

F.P.J. Angola é um país africano de colonização portuguesa e que somente em 1974 obteve sua independência. Passou por um período difícil de guerra. O País passou por muita destruição. Em 2002, os conflitos cessaram e se inicia a reconstrução do país em todos os aspectos. Há  incentivos do governo para estarmos em Angola. O país foi dividido em zonas A, B, e C sendo a primeira a menos afetada pela guerra, a segunda a intermediária e a terceira a mais carente e conseqüentemente a que dá os melhores incentivos aos grupos interessados em investir. 

5) Quais são os primeiros animais a serem levados para Angola? Haverá o envio de sêmen e embriões?

F.P.J. Irão cerca 1500 animais de todas as categorias, especialmente vacas e novilhas prenhas das raças brangus e nelore.  Haverá o envio de alguns cavalos pois precisamos implantar o costume de usar o cavalo para pastorear o gado. Temos ainda a intenção de embarcar poucas vacas de leite para observarmos a sua adaptação no ambiente de lá para posteriormente iniciarmos uma leiteria. A suinocultura e avicultura também estão nos planos. Já neste embarque irão embriões e sêmen das raças acima mencionadas.  Este embarque está previsto para daqui a sete a nove meses. Isso por que precisamos estruturar o local primeiro com a construção de cercas, bebedouros, mangueiras e instalação de troncos e balanças.  O País passa por um intenso processo de reconstrução incluindo  estradas e ferrovias, enfim precisamos de todas as infra-estruturas prontas.

6) Conte-nos como é o trâmite dessa viagem.

F.P.J. Os animais sairão do Porto de São Sebastião e chegarão ao Porto de Lobito que fica a 180 Km da principal fazenda da organização, a Alto Cubal, na cidade de Cubal, província de Benguela. Em relação ao embarque de animais, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) exige uma série de exames e temos um protocolo próprio de embarque. A viagem dura cerca de  15 a 20 dias e os animais ficam confinados em um ambiente pequeno. A logística na hora do embarque é essencial pois temos que pagar pelo tempo que o navio  fica parado no porto. A alimentação dos animais é por nossa conta e a água e tratadores já estão incluídos no aluguel do navio. Já foram feitos vários transportes e atualmente  não se perde nenhuma cabeça na viagem.

7) Como são o solo e o índice pluviométrico da região da Fazenda Alto Cubal?

F.P.J. Impressionei-me com a qualidade do solo da região. É claro que há locais de solo ruim, mas nos bons lugares encontramos altas concentrações de fósforo, potássio e matéria orgânica. A acidez é tão baixa que despensa o uso do calcáreo que no Brasil é imprescindível na maioria dos lugares. A pluviosidade varia de 800mm em locais ruins, até 1300-1800mm nas áreas boas e as chuvas se concentram de setembro a abril. É um clima muito semelhante ao do oeste da Bahia.  As pastagens nativas que observamos são da família das brachiarias, colonião e cynodom. Nossa intenção é reformar as pastagens. A altitude também me chamou a atenção, atingindo uma média de 900m, o que confere um clima bem agradável especialmente à noite.

8) E a mão-de-obra em Angola?

F.P.J. Os brasileiros têm muito mais experiência na pecuária do que os angolanos, e por isso alguns técnicos brasileiros já estão lá para passar o nosso conhecimento. O nosso veterinário responsável e também técnico da brangus é o Eldnir de Souza Alves e temos também o economista Rogério Domingos. Em relação à mão-de-obra menos qualificada, temos o compromisso de dar instrução para a população local e por isso levamos apenas um profissional que irá ensinar os outros.  Deixo claro que nosso compromisso com o governo de Angola é o de promover o crescimento do país sempre transferindo tecnologias. Nossa principal fazenda (são seis no total) a Alto Cubal tem uma comunidade nas vizinhanças com a qual vamos interagir aos poucos passando tecnologias para a população local tanto de cultivo de cereais para posterior compra e uso na fábrica de rações, quanto ao fornecimento de rações e assistência técnica para aqueles irão criar animais. 

9) O que você espera do brangus em Angola?

F.P.J. Esperamos que se adapte até melhor que no Brasil em função da altitude elevada e do clima ameno da noite angolana.  Produzir uma carne de qualidade superior que em plano futuro será servida no restaurante do hotel em construção na praia de Ramiro em Luanda. Nossa intenção é produzir carne de alta qualidade em larga escala para abastecer o mercado.

Assessoria Brangus

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