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Região Sudeste do MT aposta na integração para reforma de pastagens

Com dados do Imea, o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, desde 2005 o rebanho do Sudeste do MT permaneceu estável, com leve redução de um ponto percentual, enquanto a área plantada com soja avançou aproximadamente 20% nos últimos cinco anos, alcançando uma estimativa de 1,74 milhão de hectares na safra 2013/14.
Na cidade de Água Boa, que sediou na última quarta-feira, 9, a 11ª etapa do projeto Acrimat em Ação 2014, a situação é semelhante. “No primeiro momento, há uma leve diminuição ou estagnação do rebanho porque as pastagens degradadas estão passando para a agricultura. Depois, quando houver integração, o rebanho volta ao mesmo volume anterior, mas melhora em termos de qualidade, avançando em genética”, projeta o presidente do Sindicato Rural de Água Boa, Laércio Fassoni.
A opção pela agricultura na região vem do bom momento de mercado para os grãos brasileiros e também da necessidade de recuperar pastagens. “Fazer exclusivamente recuperação é inviável pelo custo alto, tem que desembolsar bastante. A agricultura ameniza, mas o resultado é observado mais no longo prazo. Por isso é possível estimar estagnação ou leve redução de rebanho”, justifica Fassoni. De acordo com o presidente da Associação dos Engenheiros Agrônomos da cidade, José Carlos Warpschowski, o produtor deve acostumar-se a plantar e criar gado. “Se fizer as duas coisas ao mesmo tempo, há estabilidade das atividades e o desenvolvimento econômico fica mais sólido”, aconselha Warpschowski.
Em Água Boa, a integração é feita de forma pontual desde o final da década de 1970. “O processo foi se aperfeiçoando ao longo das décadas. Por isso eu digo que Água Boa está, de certa forma, na vanguarda da pecuária. Nós temos um nível bastante razoável de estrutura de confinamentos de gado de corte e um bom nível de produtores que fizeram ao longo da ocupação dessa nossa região agricultura e pecuária quando não se falava nisso”, lembra Maurício Tonhá, titular da Estância Bahia, cuja matriz se localiza na cidade de Água Boa.
Este foi o caminho escolhido pelo pecuarista Celso Oliveira já há dois anos. Sua propriedade, localizada em Canarana, no Mato Grosso, era voltada exclusivamente à pecuária de ciclo completo desde 1995. Na safra 2012/13, Oliveira realizou o primeiro plantio de grãos e em 2013/14 o cultivo de soja tomou 365 hectares da Fazenda Sagarana. O produtor ainda não integrou as atividades, mas projeta aumentar a lotação de animais por hectare em mais de duas vezes e meia, saindo de três cabeças/ha para oito cabeças/ha na época das chuvas em pastagens plantadas nos talhões de soja.
A transição da pecuária exclusiva para a agricultura-pecuária não exigiu grandes esforços operacionais por parte de Oliveira. “Para introduzir a agricultura, o produtor tem uma facilidade que não tem na pecuária: financiamento. Para plantar soja, basta ter vontade, porque você consegue financiamento de adubo e defensivos. Por isso eu digo que sair da pecuária e ir para agricultura é mais fácil do que o contrário. Na pecuária, você tem que tomar decisões todos os dias, durante o ano todo, afinal é uma atividade com muitas variáveis. Já a agricultura é como receita de bolo. Um engenheiro agrônomo receita uma lotação de plantas por metro, um espaçamento adequado, o volume de adubo necessário, enfim, prescreve uma receita”, revela Oliveira. A dificuldade, segundo o produtor, é a formação da equipe. “Eu tive dificuldade e investi em um funcionário que já trabalhava comigo na pecuária. Com a ajuda de um agrônomo, ele aprendeu a plantar e a adubar”, conta.
Mas se o operacional não chega a ser um grande problema, a transição da pecuária para a integração esbarra em paradigmas culturais dos produtores. “O que tem que mudar é a coragem para assumir dívida. Geralmente o pecuarista não tem dívida ou ela é pequena em relação ao patrimônio. Já o agricultor tem uma dívida grande. Então, o pecuarista que não gosta de assumir riscos não vai virar agricultor. No máximo vai arrendar um pedaço da fazenda para a soja”, opina Oliveira.
Atualmente o rebanho bovino do município de Água Boa soma 380 mil cabeças, enquanto a área plantada com soja atingiu 120 mil hectares. Para a safra 2014/15, a projeção do presidente do sindicato rural é um crescimento de 25%, chegando a 150 mil hectares.

Dicas para aumento de produtividade
Uma possibilidade que a integração dá ao produtor é o plantio direto na palha, o que acaba poupando custos com o revolvimento da terra e também com a aplicação de adubos pela decomposição de matéria orgânica. Na região do Vale do Araguaia, no entanto, o alto nível de oxidação acaba inviabilizando a aplicação da técnica, ressalta José Carlos Warpschowski, da Associação dos Engenheiros Agrônomos de Água Boa.
“Enquanto o nível adequado de matéria orgânica no solo é de 6% a 8%, aqui não se consegue mais de 2,5% a 3%. A solução é gerar mais palha. É possível, por exemplo, plantar em cima da braquiária. Você tem no início da lavoura poucas chuvas, depois o capim se desenvolve bem, então o agricultor desseca e semeia a soja em cima. O capim acaba fazendo boa cobertura e ajuda a manter a umidade do solo. O recomendado seria colher a soja, plantar milho safrinha com braquiária nas entrelinhas e, na hora de colher o milho, apascentar o gado na resteva para depois plantar a soja de novo”, indica Warpschowski.
De acordo com o agrônomo, outra necessidade da agricultura é aumentar a produtividade média. “Falta mais visão para a agricultura de precisão. Não basta aplicar a fórmula NPK. Tem que prestar atenção também para os micronutrientes, fazer calagem, fosfatagem e colocar gesso agrícola. Já fazemos uma boa prevenção sanitária e chegamos a baixos índices de ferrugem, por exemplo. Resta programar melhor também a aplicação de macro e micronutrientes”, recomenda o agrônomo.

Fonte: Rural Centro