27% mais cara, a carne bovina pesa no bolso do consumidor

Ao longo de 2014 o preço da carne bovina disparou nos açougues e supermercados do Espírito Santo. O aumento registrado em alguns estabelecimentos supera os 27%. Quem paga (caro) por essa elevação no valor desse alimento é o consumidor que sente no bolso o peso do reajuste.
O quilo do contra-filé, carne de primeira, passou de R$ 17,98, no início do ano, para R$ 22,98. Um aumento de 27,8%, no período de dez meses. Essa elevação no preço também atingiu carnes de segunda. O acém, por exemplo, saiu de R$ 10,98 para R$ 13,98, neste mês.
Essa disparada é cerca de cinco vezes maior do que o índice de inflação medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV) sobre o preço dos alimentos acumulado até outubro que foi de 5,38%, e, nos últimos 12 meses, esse número é de 6,84%. "No geral, tudo aumentou, mas tem coisas que aumentaram demasiadamente", afirma o representante comercial, Ademir Pazito, 61 anos.
O consumidor sente no bolso essa disparada de um alimento cujo consumo faz parte do hábito. "O brasileiro tem orgulho de dizer que come carne", destaca a professora Vera Simões, 60 anos. Ela revelou que, há poucos dias, comentou com o filho que isso tem refletido nas churrascarias, onde o preço tem aumentado em curtos períodos.
Churrasquinho fica mais caro
O aumento no preço da carne bovina também reflete e traz prejuízos para as pessoas que tiram seu sustento da venda desse alimento, por exemplo, os ambulantes. "Em três meses, a carne que a gente compra aumentou três vezes", revela Elis Silva Lima, 25 anos, que vende espetinhos em parceira com Robertha Ceolin Stefanon, 31 anos.
Por conta dos reajustes no preço da carne bovina, o espetinho que custava R$ 2,50 passou para R$ 3,50. Elas dizem que estão segurando para não aumentar o preço do produto outra vez. "O que ganhava, há cinco anos, com o espeto, hoje não consigo mais", contou Robertha. Segundo ela, a porcentagem de ganho em cima de cada espeto hoje não chega a 50%.
Seca e exportações influenciaram no aumento
A explicação para o aumento no preço da carne bovina nos supermercados e açougues está relacionada a alguns fatores, entre eles a seca, o aumento na quantidade de exportações para abastecer outros países e o período de entressafra (em que a oferta de gado é menor do que a demanda).
De acordo com o presidente Associação Capixaba dos Criadores de Nelore (ACCN), Victor Paulo Miranda, no início do ano, o preço da arroba do boi custava R$ 100. Atualmente, esse valor varia entre R$ 125 e R$ 130. Embora o valor tenha subido, ele destaca que o preço da carne no Estado ainda é mais baixo do que em outras unidades federativas, entre elas Pará, Rondônia e Tocantins, todos eles grandes produtores.
A ausência de chuvas faz com que falte água para o gado beber e também para o crescimento dos pastos. "Os pastos do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais foram dizimados pela seca", afirma Miranda. De acordo com ele, a normalização dos pastos deve levar cerca de 70 dias, caso as chuvas venham a cair nesses locais de seca.
Até lá, o preço pode continuar a subir e os reflexos desse cenário devem persistir por mais dois anos, conforme o presidente da ACCN. Uma das consequências dessa seca, foi o abate de muitas fêmeas por conta da falta de pastagem.
Outro fator que está relacionado ao reajuste do preço da carne é o aumento no número de exportações. "A Rússia foi um dos países que aumentou a importação de carne do Brasil", salienta o presidente da Federação da Agricultura do Espírito Santo (Feas), Júlio Rocha. Por questões diplomáticas com os Estados Unidos, os russos deixaram de comprar a carne norte-americana e passaram a importar a brasileira.
De acordo com ele, esse aumento de exportações também refletiu nas carnes suínas e aves. No total, a venda de carne brasileira para outros países foi superior a 12 bilhões de dólares (3,6% a mais do que no ano passado). O frango foi responsável por 5,88 bilhões de dólares, enquanto que a de origem bovina gerou 5,27 bilhões de dólares (aumento de 9,9%).
Crise de abastecimento
Aquela que pode ser a consequência mais grave da falta de chuvas e do aumento da exportação é a falta de carne para o mercado interno capixaba. Segundo o presidente da ACCN. Miranda explica que os mercados de Minas Gerais e São Paulo estão comprando animais do Espírito Santo para confinamento. Por conta dessa comercialização do gado, os produtores vão ter dificuldade para abastecer o mercado interno capixaba.
Ele salienta que apesar da alta no preço, os produtores de bois não estão ganhando dinheiro, já que a manutenção dos animais com filagem e ração está se tornando cara.
Já o presidente da Feas, discorda dessa posição e afirma que não vai faltar carne. Para ele, o que deve acontecer é as pessoas reduzirem a quantidade que costumam comprar. Rocha orienta ao consumidor a substituição da carne bovina pela de animais de pequeno porte ou peixe.
Para quem não quer trocar a carne bovina pela de outro animal, a saída é ir de um supermercado a outro pesquisando os preços. "Tem que fazer pesquisa de preço e buscar as ofertas", diz o presidente da Federação.

Fonte: Es Hoje 

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