Aumenta a produção, mas aumenta ainda mais o consumo

Há algum tempo escrevi sobre isso e hoje resolvi revisar minha análise para atualizar a projeção. Ou melhor, verificar se ela continua “no trilho”.

Nas últimas décadas, o mundo e o Brasil experimentam uma redução gradual da taxa de crescimento da população. A partir dos anos 1970 houve uma tendência de desaceleração causado, principalmente, pelo ingresso da mulher na vida acadêmica ou o início de sua participação na renda familiar.

O nível de escolaridade mostra-se como fator determinante no número de filhos que ela conceberá.

De acordo com o Ministério da Saúde, o número de filhos gerados por cada mulher brasileira, ou a também chamada taxa de fecundidade, é de 1,94 (IBGE, 2009) contra 5,8 em 1970.

A taxa atual se aproxima daquelas registradas em países desenvolvidos e, ao contrário do que possa parecer, não desacelera o consumo, pois no fim das contas a taxa de fecundidade sempre representa crescimento, mesmo que em menor ritmo do que observado em décadas passadas. Com o número de nascimentos em desaceleração, pode-se dizer que a quantidade de pessoas em idade produtiva será maior num intervalo de 25 a 30 anos, que isso poderá gerar aumento de renda e, consequentemente, do consumo per capita de carne bovina.

De acordo com o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, a população brasileira em 2010 era de 191 milhões de habitantes.

Com uma taxa de crescimento populacional de 1,1% ao ano, que é o que pudemos observar nos últimos dois anos, é possível projetar que o Brasil terá 237 milhões de habitantes em 2030. E até lá, a pecuária brasileira deverá crescer quanto para acompanhar a população?

De acordo com o Departamento Norte Americano de Agricultura, o USDA, o consumo brasileiro per capita de carne bovina em 2010 foi de 37,8kg, o que resulta em uma demanda interna de 7,2 milhões de toneladas de carne/ano.

No ano passado, o Brasil exportou 951 mil toneladas métricas de carne bovina. No primeiro semestre de 2011, o volume mostra crescimento de 13% maior se comparado ao mesmo período de 2010.

Se mantivermos o consumo per capita registrado atualmente, em 2030 a demanda será de 8,9 milhões de toneladas, sem levar em conta as exportações brasileiras.

Contando com um cenário de aumento da participação de brasileiros em idade produtiva (adultos) e melhora do quadro econômico (menores gastos com educação e previdência), o consumo per capita de carne bovina deverá aumentar.

Sem falar do crescimento econômico do país, que por si só já impulsiona o consumo de proteínas de melhor qualidade. Para se ter uma ideia do aumento do poder de compra do brasileiro, em 1994 comprava-se 1,4 cesta básica com um salário contra 2,1 cestas em 2010. Um incremento de 50%!

A demanda interna deverá ser, portanto, 24% maior do que a registrada atualmente, considerando apenas o crescimento vegetativo da população e a produção brasileira terá mercado para crescer.

De acordo com a Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) referente a 2008/2009, o rebanho bovino brasileiro em 2009 estava estimado em 205 milhões de cabeças e produziu 10,4 milhões de toneladas de carne.

Com o aumento da demanda por proteínas de melhor qualidade, existem duas possibilidades (que podem ser combinadas para chegar a um bom resultado): aumentar o tamanho do rebanho ou aumentar a produtividade.

Para projetar a primeira alternativa, levem em consideração um crescimento de 3% ao ano para as exportações. Se elas forem somadas ao consumo interno (com um consumo per capita estático), a demanda total de carne seria de 14,5 milhões de toneladas em 2030. Portanto, o crescimento do rebanho deverá ser de 39% ou 81 milhões de cabeças.

A segunda alternativa seria aumentar a taxa de desfrute, que teria que chegar a 34% para acompanhar a demanda por carne. Hoje esse desfrute gira em torno de 17%, ou seja, o aumento necessário seria de 100%. Além da previsão de crescimento brasileiro, outros países emergentes deverão encontrar situação semelhante, ou seja, aumento do consumo de proteínas animais.

 A conclusão dessa simulação nos leva a crer que há grande necessidade de um aumento dos índices produtivos e de competitividade, que deveriam se voltar principalmente ao maior ganho por área, visto que a pressão ambiental sobre a abertura de novas áreas de pastagem é grande, além da competição acirradíssima com migração para áreas de agricultura.

 FONTE: WWW.AGROBLOG.COM.BR / AUTOR LYGIA PIMENTEL

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