Kaju: Da arquitetura para a pecuária

João Paulo Schneider da Silva, mais conhecido como Kaju, em entrevista exclusiva para o jornal Brangus Repórter edição Nº 2, contou um pouco da sua história de vida. Aos 51 anos, Kaju possui dois filhos - Rafael e Eduardo e é casado com Ângela Linhares, filha de Eduardo Macedo Linhares, criador de Brangus em Uruguaiana/RS e titular da reconhecida Gap Genética. Formado em arquitetura, ele explica como chegou até a empresa em que hoje atua na área comercial e revela um dos grandes segredos que contribuiu e muito para o sucesso da marca: O trabalho em Família.

Brangus Repórter: Conte-nos a sua origem. Sua família veio da pecuária?

Kaju: Sou natural de Porto Alegre, cidade onde meu pai trabalhava em uma grande indústria de transformadores elétricos e também como professor de ciências econômicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Minha mãe era dona de casa, cuidava de mim e de meus dois irmãos. Cursei e me formei em arquitetura pela UFRGS, e nesse meio tempo encontrei uma pessoa que me levou para o lado da fronteira. Porém, era minha idéia ser arquiteto e atuar no interior do estado, pois meu tio formado em Porto Alegre estava muito bem como arquiteto em Novo Hamburgo. No meu caso, eu imaginava Uruguaiana como um bom campo de trabalho. A minha família nunca teve envolvimento com a pecuária, e nunca passou pela minha cabeça como campo de trabalho, algo parecido que passou na minha vida foi quando fiz quartel, onde tive a oportunidade de aprender á montar a cavalo, fiz cavalaria, montei muito e aprendi a lidar e apreciar muito esses animais.  

Brangus Repórter: Hoje, você está casado com Angela Linhares, como vocês se conheceram?

Kaju: Conheci a Angela em um reencontro nosso. Reencontro por que um fato um tanto curioso, faz parte desta história. Nasci no dia 4 de junho de 1959 e ela nasceu no dia 5 de junho de 1959, ou seja, temos horas de diferença de nascimento. Além disso, nós dois nascemos no hospital Beneficência Portuguesa em Porto Alegre. Dizem que minha mãe amamentou outras crianças, pois tinha muito leite e quem sabe, a Angela não foi uma delas, pois ela nasceu poucas horas depois. Também dizem que eu, deitado já em meu berço, pisquei para ela quando recém nascida, passou nos braços da enfermeira. 21 anos depois, acompanhado de meu irmão e mais dois amigos, descemos o cânion do Itaimbezinho localizado no norte do Rio Grande do Sul, um dos conhecidos pontos turísticos do estado. No final desta expedição, ficamos sabendo que haveria um ônibus indo para Porto Alegre, que estava com uma turma que havia feito a mesma aventura. A Angela também havia descido o Cânion do Itaimbezinho e por isso estava no mesmo ônibus que pegamos carona. Foi quando tive a oportunidade de conhecê-la. Começamos a conversar sobre a nossa aventura e já neste primeiro encontro houve uma identidade muito grande entre nós. Este momento aconteceu em março e em junho nós já estávamos comemorando nosso aniversário. Outro fato comum é que a Angela, enquanto estudante (cursava medicina veterinária) morava no mesmo bairro que eu. Isso facilitou muito para nos aproximarmos mais, sendo comum o chimarrão no fim de tarde, antes de irmos para a faculdade. Com essa aproximação, nos tornamos amigos e aos poucos fui conhecendo a família Linhares. Por conta das aventuras e da faculdade, tínhamos amigos em comum, e isto foi determinante para o surgimento de uma boa turma de convívio.


Brangus Repórter: Você estudava arquitetura na capital, como veio parar na Estância São Pedro em Uruguaiana?

 Kaju: Por conta do meu curso de arquitetura, eu precisava passar quase todos os fins de semana do semestre, virando noites fazendo trabalhos e projetos. Uma vez fui convidado pela Angela para passar a páscoa na Estância São Pedro. Após este convite, tive que fazer uma escolha, aceitar ou largar uma cadeira do curso só para conhecer a famosa estância São Pedro, tão comentada entre a família e até pelos amigos, como o Trajaninho Silva, que era meu colega e já havia mencionado a beleza da estância, inclusive me alertando que quando eu tivesse oportunidade de conhecer, não pensasse duas vezes. Foi aí que optei por largar uma cadeira do curso, para ir até a estância, quando conheci de vez a família, contribuindo para o estreitamento da relação com a Angela.


Brangus Repórter: Após ter conhecido sua esposa, a família e a estância, você passou a fazer parte da equipe de trabalho da Gap até hoje. Como isto aconteceu? E a arquitetura?

Kaju: Com a divisão da Cabanha Azul, O Eduardo tinha necessidade de montar uma equipe para tocar os projetos da fazenda, além de ser preciso uma infra-estrutura melhor para desenvolver algumas atividades. Quando comecei a namorar a Angela, o Eduardo sabendo da profissão que escolhi e ele demandando de serviços de arquiteto, passou a me solicitar projetos para a construção de galpões e outras tantas necessidades que ele tinha na fazenda, pois era o momento de melhorar a condição da propriedade em termos de estrutura por ser o inicio da fase de profissionalização da atividade como empresa, mesmo por que começava a ser implantado o cultivo de arroz na região de Uruguaiana e em seguida também na São Pedro, e consequentemente existindo a necessidade de infra-estrutura adequada, como galpões de armazenamento, casas para funcionários, tudo aquilo que caberia a um arquiteto desenvolver. Foi aí que antes mesmo de casar, iniciei minha atuação, contribuindo neste sentido, com a arquitetura, dirigida para as necessidades da empresa. Por conta disto, procurei incentivar a Angela para vir para Uruguaiana e trabalhar junto ao pai, pois observei que ela tinha tudo á ver com a agropecuária, até por ela ter crescido naquele ambiente, trazendo no sangue essa essência rural vinda de família, e por isso mesmo que acredito que ela tenha o “dom” para a atividade. Fui percebendo também, que meu negócio era fazer arquitetura em Uruguaiana para a própria empresa e também para ser um arquiteto na cidade como eu imaginava anteriormente. Por acompanhar as obras, dos projetos que elaborava, recebendo material, lidando com as notas e pedidos, se tornou algo comum meu convívio no escritório. As coisas foram acontecendo, e assim chegou o momento que eu mesmo fiz uma proposta para o Eduardo, revelando que era meu objetivo construir um futuro juntamente com a Angela, e assim, era minha intenção poder colaborar mais com a parte administrativa da empresa já que eu estava convivendo muito no escritório. O Eduardo, embora não desejando me desfocar da minha profissão, apostou em nós dois. No meu caso, comecei atender o escritório, toda área comercial da empresa, e a Angela atuando na área técnica de produção e seleção dos animais. Apesar de nunca ter este como objetivo inicial de vida, pois sempre quis ser um bom arquiteto, pela minha vocação para isto, acabei me redirecionando para outro setor diferente do que eu havia pensado para mim, porém, não me arrependo de maneira alguma, por me sentir muito bem recebido dentro de uma família fabulosa como esta.


Brangus Repórter: Apesar de você ter ingressado na Gap contribuindo como arquiteto, a estância, o campo, a produção agropecuária era um setor totalmente diferente do qual pensava atuar. Como você se viu inserido neste meio e quais desafios surgiram?

Kaju: Com a entrada via arquitetura, comecei a me deparar com necessidades e oportunidades, principalmente na área comercial. Como é tão bom de trabalhar neste ambiente, constituído por uma família maravilhosa, foram aparecendo oportunidades e com isso, foi possível colaborar com todo este trabalho de muita história, buscando aliar a tradição com algo mais moderno, principalmente na questão comercial, nova marca, atendimento aos clientes, ou seja, houve necessidade de pessoas para trabalhar nestas áreas e foi aí que eu passei a interagir. Inclusive, uma curiosidade é que no início da cabanha de cavalos Crioulos, pude contribuir na organização, pois eram os primeiros investimentos feitos pelo Eduardo, sendo que hoje o Crioulo é uma realidade na Gap, tocado atualmente pela Marcinha (cunhada). Por conta do meu gosto por cavalos, pude colaborar com o novo setor, projetando a obra de construção da cabanha para os cavalos, que hoje talvez seja, em minha opinião, uma das mais bonitas que conheço. Com o fato de o Eduardo ter recebido parte da Cabanha Azul, nós tivemos a necessidade de ser feita uma reestruturação para atender alguns objetivos, como a construção desta cabanha de eqüinos, cabanha de ovinos e também, para a realização dos leilões. Quando começaram os leilões, por mexer diretamente com a área comercial da empresa, tive oportunidade de organizar o evento, sendo que até então eu só acompanhava remates, pois sempre a Cabanha Azul que realizava e organizava. Quando surgiu a Gap nós começamos a fazer remates e juntamente com toda a família e a equipe, obtivemos muito sucesso até hoje.


Brangus Repórter: Como é desenvolvido seu trabalho atualmente?

Kaju: Juntamente com minha cunhada Heloísa, que cuida do nosso marketing, buscamos sempre inovar e projetar a venda dos nossos produtos. Procuro acompanhar os processos produtivos, fazendo companhia para a Angela como secretário, sem interferir, também com o objetivo de ter uma consistência comercial em venda e publicidade para que eu possa chegar ao escritório e estudar as formas que vamos mostrar e disponibilizar aquilo que é produzido por nós. Temos um compromisso com o nosso público, a cada ano existe uma expectativa de qual será nossa inovação em nossa forma de nos relacionar com nossos clientes, seja através do tradicional leilão ou da internet como fizemos em 2009, visando atender as exigências do mercado, seja ele o frigorífico, o produtor comercial que precisa de touros, o criador que precisa de genética, enfim, queremos a satisfação do cliente e que ele sempre volte a estar conosco, não só pela qualidade, como também pelo atendimento que podemos oferecer. Isto é muito preconizado por nós em todo o processo. Enquanto grande parte da equipe da família está ligada a produção, na pecuária estou trabalhando pelo lado comercial, pensando as melhores formas de desenvolver este trabalho, juntamente com a Heloísa. Por ser uma atividade da família, todas as idéias são expostas para todos terem participação, para que possamos divulgar nossa imagem e nossos produtos de uma forma em que todos estejam de comum acordo.


Brangus Repórter – Quais são algumas de suas características? Na empresa, você cuida da área comercial, mas quando está fora, em horas de lazer, o que gosta de fazer?

Kaju: Eu sou uma pessoa muito comunicativa, um ser humano muito social que gosta muito de se relacionar com as pessoas e estar com os amigos. Gosto de estar com meus companheiros. Gosto de praticar esportes, pois sempre fui esportista. Um exemplo é que para visitar alguns amigos, eu fazia todo percurso correndo de um bairro a outro em Porto Alegre. Depois comecei a praticar outras modalidades, como o futebol; Viajando com a família pratiquei muito esqui, houve um tempo que me dediquei ao Tênis e entre tantas coisas que aprendi com meu sogro Eduardo Linhares, (e sou muito feliz por ter aprendido) foi a jogar Golf. Apesar de não haver estrutura específica para tal, o campo de aviação da estância serve bem para jogar, já que possui uma grama baixa que permite ver a bola. Então, comecei a praticar o Golf, e hoje é o esporte que mais gosto e que mais me dedico, a ponto de trocar almoço e o descanso, por uma partida sempre que possível, tendo a companhia do meu cunhado, Paulo Eduardo Linhares, que além de ser meu patrãozinho depois do Eduardo, é meu companheiro de Golf e mais uma boa turma que também gosta do mesmo esporte. Em qualquer lugar que estejamos e que tenha uma cancha de Golf, lá estamos nós jogando. Busco sempre melhorar, seguindo o exemplo do Eduardo que até hoje ainda joga conosco. Em nossa família, alguns possuem o amor especial aos Cavalos como roby, embora eu também seja um pouco campeiro e outros como eu e mais alguns companheiros da família, temos a paixão pelo Golf.


Brangus Repórter: Você comentou anteriormente sobre a família Gap. O que você pode destacar nela?

Kaju: O Diferencial da Gap, não está no gado, no cavalo Crioulo ou no negócio como um todo, e sim no legado das pessoas valorizarem a união familiar, a família como a base de tudo. Tudo está em torno da família, e hoje, graças á Deus, nós ainda conseguimos manter estes valores com a nova geração, com os nossos filhos. Estamos preocupados em manter estes valores humanos na família, tanto que estamos fomentando entre todos nós, para que isto siga acontecendo de geração em geração. Os nossos filhos, desde cedo estão percebendo e observando que se formos unidos, se a família estiver bem, se todo mundo tiver felicidade em conviver, nós vamos conseguir fazer algo diferente. É exatamente isto que é o grande legado centenário que nós estamos cultivando em todas as gerações, está à cima de qualquer coisa, a cima do grande patrimônio chamado Gap. Este conceito de vida também é um patrimônio, que é saber conviver em uma família, harmonicamente, com felicidade e união. É isto que nos dá suporte para o sucesso no negócio, nos fazendo mais ricos no sentido humano, nos fazendo pessoas de bem e muito felizes. É o nosso investimento para que a família esteja sempre unida, participando, contribuindo, torcendo para o sucesso de tudo. Posso dizer que o Eduardo foi muito feliz quando propôs que seus filhos não eram herdeiros e sim sócios, sendo que toda família vive em torno do negócio, e isso é fundamental para preservar e desenvolver todo o trabalho. É uma estrutura familiar muito forte, tanto que todo ano todos nós viajamos juntos, sendo esta, uma maneira de transmitir aos novos, aquele nosso conceito de viver, através da própria convivência ao invés de regras, pois desta forma todos estão cada vez mais próximos por um bem comum. Isso tudo foi possível graças ao exemplo que nós temos dentro da nossa família que é o Eduardo, uma pessoa virtuosa que tem sucesso no que faz, e nós todos somos seguidores. Eu, juntamente coma minha esposa já notamos que nossos filhos, também absorveram a mensagem e estão cultivando este valor familiar também, mesmo seguindo outros ramos de atividade, estão sempre preocupados com o andamento da empresa, valorizando o trabalho e juntamente com nossos sobrinhos, estão sempre participando de forma ou outra de tudo. É um futuro garantido graças a essa essência familiar, onde há um grupo da nova geração que está sendo o embrião da administração futura da empresa, através da inteligência coletiva como potencial para tudo dar certo. Cultuando isto a 100 anos, preservando os valores humanos e o meio ambiente, ou seja, sempre buscando melhorar o meio de trabalho. Digo que todo o sucesso da Gap se deve ao fato de todos unirem esforços para isto, desde a família até a nossa equipe da fazenda que também é uma família, tendo pais e filhos trabalhando em conjunto, é um trabalho coletivo, sendo cada um em seu papel, onde todos merecem ser reconhecidos. 


PING PONG:

Deus: É a natureza e a vida.

Família: Tudo.

Em primeiro lugar: A amizade em todas suas formas.

Missão: Eu acho que já cumpri a minha. Pois quando penso o que me deixaram, imagino que devo fazer o mesmo, e eu sei que já deixei. Estou satisfeito com os meus dois filhos, pois juntamente com minha esposa, consegui multiplicar o que sou com meu jeito de pensar e com o conceito de vida que temos.

Futuro: Gostaria que no futuro o mundo fosse com menos desigualdade e que as pessoas pudessem ter a oportunidade de serem felizes, assim como tive, nem que para isso fosse preciso um controle de natalidade para que o mundo não fosse tão injusto com tanta gente. Acho que o negócio é um mundo com mais oportunidades para todos.  

Post: Imprensa e Comunicação
Associação Brasileira de Brangus
Nathã Carvalho

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