Prejuízo com falta de abate de bovinos pode ser de R$ 2,5 milhões/dia
Duas unidades de abate de bovinos paralisaram atividades, diz Mapa. Com estoques no limite, frigoríficos podem operar somente esta semana
Com a continuidade do protesto dos caminhoneiros que bloqueia rodovias em Mato Grosso pelo 9º dia, as 30 unidades de frigoríficos de bovinos com Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Estado podem paralisar suas atividades nesta semana, conforme o Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso (Sindifrigo-MT). As paralisações causam um prejuízo estimado de R$ 2,5 milhões por dia, segundo o sindicato.
Mato Grosso é o estado com o maior rebanho do país. São 28,4 milhões de cabeças de gado, de acordo com o Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea-MT). “Por dia, ocorrem de 80 a 100 mil abates de gado no Estado”, informa o secretário-executivo do Sindifrigo/MT, Jovenino Borges.
Hoje no Estado, de acordo com informações da Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária de Abastecimento no Estado de Mato Grosso (SFA) que fica em Várzea Grande, estão paradas as unidades de abate de dois frigoríficos do mesmo grupo em Alta Floresta e Matupá e mais cinco unidades do grupo estão sinalizando paralisação das atividades. Além disso, um frigorífico de Paranatinga pode declarar férias coletivas aos funcionários a partir da semana que vem.
“Todas as unidades frigoríficas com SIF do Estado estão trabalhando com a capacidade baixa porque os estoques estão no limite máximo e não estão conseguindo emitir produtos por causa dos bloqueios nas rodovias”, informa Leandro José Machado, chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal da SFA/MAPA.
O Estado possui ainda sob dez frigoríficos que abatem bovinos e mais três mistos (que abatem suínos e bovinos) que possuem o selo do Serviço de Inspeção Estadual do Estado do Mato Grosso (SISE), que comercializam carne bovina dentro de Mato Grosso. Mas, conforme informações do Indea, nenhuma unidade relatou paralisação ou redução das atividades nesta semana.
Em uma empresa de frigorífico de bovinos que tem unidades em Sinop, Nova Canaã eMatupá, o abate diminuiu 30% nesta semana, o que representa cerca de 450 animais que deixaram de ser abatidos. “A expectativa é de que, se o protesto continuar na próxima semana, as atividades sejam paralisadas, por falta de veículos com câmara fria para transporte de carne para outros estados e também de óleo diesel para transportar o gado em pé das fazendas até o frigorífico”, diz Pedro Bellicanta, que representa a empresa.
Da carne industrializada nas unidades, 90% é vendida para outros estados, como São Pauloe Rio de Janeiro. As carretas que conseguiram chegar ao destino final para entregar a carga não estão conseguindo retornar aos frigoríficos por estarem vazias, explica Bellicanta.
As unidades estão na iminência de parar de funcionar neste sábado (28), pois há apenas 10 carretas disponíveis para transporte de carne com osso e desossada, que devem escoar a produção somente até esta sexta-feira (27). Cerca de 25 carretas que saíram carregadas com carne do frigorífico estão presas em bloqueios nas estradas, sendo a maioria em Nova Mutum, região Médio-norte do Estado.
Algumas das carretas estão há quatro dias paradas em bloqueios. “O maior problema é a carne com osso, que tem duração de até 10 dias. Normalmente, uma carreta leva quatro dias para chegar a São Paulo e, com os bloqueios, não há expectativa de chegada. Se, além desses quatro dias, ficar mais três dias na barreira, já vai chegar quase no prazo de vencimento para o consumo”, explica.
A carne desossada, que é embalada a vácuo, tem uma validade maior, de 60 dias, de acordo com ele. Sendo assim, os três frigoríficos dão prioridade para embarcar carnes com osso, já que faltam carretas para transportar os produtos. “Se não escoar a carne com osso, não consigo abater mais gado, pois vai faltar espaço para armazenagem das carnes”, afirma.
Mesmo com a diminuição dos abates, Bellicanta comenta que há gado disponível para compra nas propriedades e que os contratos firmados anteriormente estão sendo cumpridos, mas a empresa optou por deixar de comprar animais no momento.
Em outro frigorífico em Várzea Grande, na região metropolitana da capital Cuiabá, os abates ocorreram normalmente esta semana, mas o proprietário ressalta que são poucas as carretas de câmaras frias disponíveis para levar as carnes bovinas para São Paulo, para onde vende parte de sua produção. “Se o protesto continuar, acredito que somente poderei escoar a produção nos próximos dois dias”, diz Ademir Galina.
Por dia, são abatidos cerca de 300 animais na unidade e são carregadas 15 caminhões de câmara fria por semana com carne e que também estão ficando presos nos bloqueios quando tentam retornar vazios para Mato Grosso. Um dos caminhões que seguiu viagem no último sábado (21) ainda não conseguiu retornar ao frigorífico. Ele calcula que o prejuízo seja de R$ 100 mil por dia, caso as atividades tenham que ser paralisadas.
Os abates na empresa somente não estão ocorrendo em sua total capacidade por escassez de gado para compra na região, segundo Galina. “Estamos mandando a carga de carnes com os caminhões que encontramos. Para sexta-feira (27) temos como carregar caminhões, mas no sábado talvez não tenhamos. Se faltar caminhão, somos obrigados a parar”, declara.
Fonte: Globo Rural