TE e FIV: A Evolução da Reprodução Bovina
No nosso segundo artigo sobre tecnologias da reprodução bovina, abordaremos a transferência de embriões (TE) e a fertilização in vitro (Fiv). Estas são certamente as mais modernas e ainda menos disseminadas técnicas para favorecer a reprodução.
A TE está baseada no princípio da multiplicação, de forma acelerada, da progênie de fêmeas (doadoras) consideradas superiores, dentro de cada criatório. No caso da IA, só o material genético do macho é multiplicado em grande escala. Atualmente é a técnica mais acessível e de melhor aproveitamento de uma doadora.
Para a seleção das doadoras a serem inclusas num programa de TE, as fêmeas devem ser observadas quanto à ausência de distúrbios reprodutivos e doenças hereditárias, presença de ciclo estral regular, conformação desejável dentro dos padrões raciais e nutrição adequada. Novilhas púberes podem ser incluídas num programa de TE desde que tenham adquirido massa muscular representativa de seu peso adulto e apresentem desenvolvimento anátomo-fisiológico que permita a realização dos procedimentos necessários à coleta dos embriões. Outro aspecto a ser considerado é o bem estar animal porque em situações de estresse os animais não respondem bem ao tratamento superovulatório.
O início do processo é a superovulação as doadoras por meio de tratamentos com hormônios, que atuarão sobre os ovários causando múltiplas ovulações. Ao mesmo tempo e de igual importância, deve ser a sincronização das fêmeas recptoras, aquelas que receberão o embrião e levarão a penhez a termo. Isso deve ocorrer caso se queira transferir os embriões a fresco, ou seja, sem processo de congelamento. Quando for possível o congelamento dos mesmos, as receptoras poderão ser sincronizadas perto da data escolhida para o serviço.
No momento oportuno, os óvulos da doadora, se fertilizados após as inseminações, serão coletados com o auxílio de aparato próprio e de uma espécie de lavagem intra-uterina, fazendo com que os embriões por gravidade e pelo próprio movimento hídrico sejam levados até filtros específicos. Depois são levados ao laboratório para serem avaliados e classificados em graus I, os melhores; II, os de nível intermediário e III, embriões com pouca viabilidade depois de transferidos. É importante ressaltarmos que em média 20% dos embriões não são recuperados.
Em uma mesma doadora podem ser feitas várias coletas durante um ano, o que permite que uma doadora produza muitos bezerros por ano, sendo que, em condições normais, produziria apenas um.
Para os bovinos a taxa de sucesso da técnica é considerada alta, com taxas de prenhez ao redor de 70% para embriões transferidos a fresco, variando de acordo com a capacitação do veterinário que realiza o procedimento. Porém os fatores que mais influem no sucesso do procedimento são: a qualidade do embrião e capacidade da receptora em levar a gestação a termo.
A conservação de embriões bovinos congelados é um procedimento comercialmente viável desde os anos 80, resultado das pesquisas pioneiras realizadas na Universidade de Cambridge (Polge e Willadsen, 1978). Inicialmente, o glicerol foi a principal substância utilizada como crioprotetor (conservante no gelo) das células embrionárias. O inconveniente dessa tecnologia era a necessidade de descongelar as palhetas e realizar a avaliação morfológica antes de realizar a transferência. Para tanto era necessário dispor de um microscópio, um meio especifico de descongelamento e um embriologista treinado para fazer a avaliação do embrião no momento da descongelação.
O uso do etileno glicol como um crioprotetor, no lugar do glicerol fez possível a transferência do embrião diretamente no útero da receptora, sem necessidade de retirar o embrião da palheta em que foi congelado. Essa inovação representou uma melhora significativa no campo da TE nos anos 90. Como as taxas de prenhez são semelhantes entre os embriões congelados com glicerol e etileno glicol, atualmente o etileno glicol é o crioprotetor predominante na maior parte dos programas comerciais de TE.
As taxas de prenhez que resultam da transferência de embriões congelados e descongelados são atualmente, aproximadamente, 10% menores que as obtidas com embriões frescos de qualidade semelhante.
O termo FIV (Fecundação in vitro) envolve a produção de embriões produzidos in vitro e inclui as etapas de maturação folicular, fecundação e cultura in vitro, até o estágio de mórula ou (mais freqüentemente) blastocisto quando o embrião está apto para ser implantado num útero de receptora.
A vantagem da Fiv sobre a TE é que pode-se obter folículos de novilhas mesmo antes da puberdade (10 meses), de vacas impossibilitadas de ovular , daquelas que não respondem satisfatoriamente aos protocolos de superovulação usados na TE e até de vacas prenhes (máximo 4 meses).
Outra vantagem é que não há necessidade de usar hormônios para superovular a doadora; a coleta é feita por punção guiada por ultra-som no ovário e pode ser repetida a cada 15 dias sem nenhum problema para a doadora. A taxa de bezerros nascidos por Fiv é de 40% a cada 10 embriões implantados. A diferença básica é que na Fiv busca-se o folículo ainda imaturo que dará origem a um óvulo no laboratório e todas as etapas posteriores até que ele se torne um embrião viável também serão realizadas no local. Na TE, estas etapas acontecem no trato reprodutivo da doadora e quando esta é coletada já fornece embriões viáveis.
A padronização laboratorial das condições ambientais para realizar a FIV, fez com que no inicio dos anos 90, várias empresas, que atuavam no ramo da TE, começassem a oferecer programas de FIV em base comercial. A produção comercial de embriões FIV rapidamente alcançou um grande sucesso e como resultado milhares de prenhezes foram estabelecidas. Infelizmente, um número significativo de gestações foi caracterizado por aborto, dificuldades ao parto por gigantismo, morte perinatal ou anomalias dos bezerros. Devido a esses problemas, a demanda pelos serviços de FIV nos EUA declinou significativamente. Nos últimos anos, contudo, esses problemas têm sido reduzidos pelo uso de sistemas de cultura com meios mais apropriados.
Atualmente, o Brasil é o maior usuário mundial da tecnologia de Fiv, sendo que o número de transferências utilizando embriões produzidos por FIV ou recuperados de vacas superovuladas é muito próximo. Em 2006 havia apenas um laboratório credenciado no Mapa para realizar o procidimento de Fiv; hoje são 16 laboratórios credenciados, o que evidencia um grande avanço em poucos anos.
Acredita-se que, no futuro, o procedimento da FIV para a produção de embriões deverá substituir a TE tradicional, envolvendo superovulação e coleta uterina dos embriões. Porém, a tecnologia de congelamento de embriões Fiv ainda não traz resultados razoáveis. Sendo assim, todos os embriões Fiv devem ser transferidos a fresco. Espera-se que num futuro próximo essa técnica já seja dominada pelos profissionais.
Assessoria Brangus