Preço recorde do boi não elimina prejuízo

O produto foi cotado a US$ 30,40 a arroba em São Paulo. Apesar do recorde na década, os patamares atuais, em reais, em muitos casos, nem cobrem os custos de produção. Quando deflacionados, os valores de hoje são apenas superiores aos do ano passado, mas inferiores à média do restante da década. 

"O preço boi está reagindo em reais porque há redução de oferta", diz Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria. A tendência, segundo as principais consultorias do setor, é que as cotações continuem em alta - alguns acreditam em reversão de ciclo; outros afirmam que pode ser momentâneo por entressafra; enquanto há quem avalie em demanda forte influenciando o mercado. 

Rosa explica que, em 1995, quando a arroba do boi gordo chegou a US$ 30, o País estava no início do Plano Real. Nesta década, a média da cotação ficou em US$ 20 a arroba. "Apesar de reagir em reais, o principal é que o câmbio está variando mais", diz Rosa. "Ao pecuarista, o preço não agrada", acrescenta. O analista Paulo Molinari, da Safras & Mercado, diz que a diferença entre o preço em dólar e em real é "um problema de todas as commodities, que estão mais valorizadas na moeda americana". 

José Vicente Ferraz, diretor da AgraFNP, afirma que, quando deflacionados, os valores são baixos. Considerando os patamares de 1980, os patamares atuais são de cerca de 32 pontos em relação àquele período. No ano passado, o índice de arroba calculado pela consultoria era de 31,1 em relação a 1980. "O preço deveria estar próximo a R$ 70 a arroba", diz o diretor.

Para ele, mesmo com o ganho de produtividade - desde 1980 - os valores deveriam estar mais altos. "Os preços em reais não pagam os custos e, em muitos casos, só empatam", afirma Ferraz. Entre os valores calculados pela consultoria, há custos de R$ 66 a arroba - para cria intensiva - ou R$ 55 a arroba - para recria e engorda intensiva. 


Os analistas afirmam que a tedência é de a oferta do gado cair. Pelos cálculos da AgraFNP, o estoque de matrizes diminuiu de 76 milhões de cabeças, em 2004, para 66 milhões de animais neste ano. Com isso, já neste ano, a consultoria estima uma redução na produção de carne da ordem de 400 mil toneladas. "O maior indício é a alta no preço do bezerro", diz Ferraz. Para ele, nos últimos quatro meses, as cotações dos animais jovens valorizaram-se 25%, chegando a R$ 410 o bezerro em São Paulo. 

Os patamares atuais dos preços do bezerro fazem com que a relação de troca do animal jovem com o boi gordo, que era de 2,4 chegue, em alguns estados, a 2,10. "A arroba deveria estar cotada em pelo menos R$ 60", afirma Molinari. 

Para o analista da Safras & Mercado, os preços em reais indicam demanda crescente. A cada ano pelo menos 4 milhões de cabeças a mais são abatidas sem a correspondente reposição, que não acompanha o ritmo de crescimento dos abates.

 

Fonte: Portal MNP

Anterior
Anterior

Produtores podem perder terras, alerta Incra

Próximo
Próximo

Carne Angus obtém reconhecimento internacional