Prevenir ou remediar?

Planejamento de manejo ajuda a erradicar os carrapatos e manter os campos livres

Mais conhecidos como carrapatos de bovinos, o Rhipicephalus (Boophilus) microplus é responsável pela diminuição, incontestável e significante, nos lucros dos pecuaristas brasileiros. A partir do primeiro levantamento oficial, realizado no ínicio dos anos 80 por veterinários pesquisadores da Secretaria da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul e do Ministério da Agricultura, especialistas estimaram, em 2002, uma perda anual acima de dois bilhões de dólares devido à ação do principal ectoparasito que afeta nosso rebanho. O fato de alimentarem-se de sangue resulta em anemia, o que retarda o crescimento, desenvolvimento e ganho de peso dos animais, resultando em aumento nos custos de produção. O carrapato também inocula toxinas diretamente na corrente sanguínea dos bovinos, o que interfere na síntese protéica, alterando a proporção proteína-gordura, resultando em maior acúmulo de gordura na carcaça e menos massa muscular. “A transmissão dos agentes da tristeza parasitária bovina (TPB) é outra ação importante que, quando não leva o animal ao óbito,retarda seu crescimento e ganho de peso por vários meses. Custos com tratamentos com antibióticos, antitérmicos, antiinflamatórios, quimioterápicos, terapia, suporte, mão de obra, suplementação nutricional de convalescentes, produtos carrapaticidas, instalações e equipamentos, também devem ser considerados”, explica o médico veterinário Álvaro Carlos M. Arteche. “Outro prejuízo importante é o dano causado à pele do animal, pois o local da picada de um carrapato demora 120 dias para cicatrizar e, normalmente, abre portas para as miíases (bicheiras) e infecções cutâneas, constituindo um dos principais entraves na comercialização futura do couro”, emenda o mestre em parasitologia veterinária. 




Conforme Arteche, os produtores possuem duas opções para controlar e evitar que seus rebanhos sejam assolados por carrapatos. A primeira é trabalhar com a presença de carrapatos nos bovinos e arcar com as con- sequências do parasitismo.


Neste caso é de grande importância a redução da população de carrapatos presente nos campos e/ou pastagens uma vez que 95% dos carrapatos estão no ambiente e somente 5% parasitando os animais. “A utilização do controle estratégico é uma opção e consiste na aplicação de tratamentos carrapaticidas baseados no conhecimento da ecologia e biologia do R. (B.) microplus nas diferentes regiões do Brasil. Esses tratamentos fazem parte de um programa de longo prazo, consistindo na concentração dos tratamentos carrapaticidas em uma determinada época do ano, de forma que no resto do ano a população de carrapatos se mantenha em níveis de infestações economicamente aceitáveis, sem a utilização de carrapaticidas”, explica o veterinário.


Os benefícios desse controle, segundo ele, são um menor número de tratamentos carrapaticidas por ano; redução da pressão de seleção dos carrapatos aos carrapaticidas e da população de carrapatos no ambiente; redução da mão de obra e dos gastos com carrapaticidas; redução dos problemas de intoxicação humana e animal e da contaminação ambiental. “A segunda opção, em minha opinião a mais moderna, eficiente e lucrativa, é trabalhar sem a presença de carrapatos, isto é, erradicando-os ou mantendo os campos livres da entrada desses parasitos, através de planejamento de manejo, vigilância sanitária constante e infra-estrutura eficiente (boas cercas)”, emenda o especialista em parasitologia veterinária. Neste caso, são feitos tratamentos com moléculas eficientes, de forma a não permitir a multiplicação dos carrapatos no ambiente. Esta alternativa vem sendo cada vez mais utilizada devido aos prejuízos diretos e indiretos causados pelos carrapatos em detrimento ao avanço da qualidade genética dos animais.



De acordo com Arteche, quem pretende melhorar geneticamente seus rebanhos, torná-los mais produtivos e precoces, irá, certamente, se confrontar com o complexo carrapato x tristeza parasitária bovina, que caminha na contramão da seleção de animais de alto desempenho produtivo. “Associada, nos primeiros anos, ao uso da vacina refrigerada contra tristeza bovina, a erradicação apresenta-se como uma alternativa viá- vel economicamente e cada vez mais utilizada, desde que sejam seguidas corretamente as orientações dos veterinários envolvidos”, emenda. As vantagens dessa opção, destaca, são carne e leite de melhor qualidade; animais menos estressados; término dos custos com tratamentos carrapaticidas; maior desempenho dos animais; melhoria significativa dos índices produtivos do rebanho; melhor qualidade de carcaça; término dos custos com tratamentos clínicos da tristeza bovina; menor contaminação ambiental e maior rentabilidade ao produtor em curto ou médio prazo.



Além das opções já descritas, o especialista sugere ainda uma série de medidas preventivas que os pro- dutores podem adotar para evitar a infestação por carrapatos e ter êxito em seu controle: antes de qualquer medida, consultar e solicitar o acompanhamento de um médico veterinário capacitado e com conhecimento dessa especialidade; seguir corretamente as instruções contidas na bula dos produtos carrapaticidas ou do médico veterinário; planejar as ações de combate ao carrapato considerando os doze meses do ano; fazer os tratamentos com objetivo de reduzir ou erradicar a população presente no ambiente e não somente dos animais; utilizar produtos comerciais de boa procedência e na concentração correta; não utilizar misturas caseiras; reduzir o número de tratamentos carrapaticidas; evitar a subdosagem ou superdosagem de medicamentos; realizar o manejo integrado com utilização de raças zebuínas; usar vacina refrigerada contra a tristeza parasitária; realizar quarentena dos animais provenientes de outras localidades; manter as cercas em boas condições, evitando a entrada de animais desconhecidos ou não tratados previamente com carrapaticidas. 

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